Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu

Cheiro das coisas

Tentamos nos sofisticar com perfumes, mas, no fundo, somos todos bichos

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Já repararam que existe documentário sobre absolutamente tudo? "A Verdade Por Trás da Indústria da Carne." "A Verdade Por Trás da Indústria." "A Verdade Por Trás da Carne." É tanta verdade, que não me espantaria se lançassem o documentário contando "a verdade por trás da indústria de documentários que falam toda a verdade".

Outro dia, assisti ao documentário "O Nariz" que, obviamente, mostra toda a verdade por trás dessa parte do corpo.

O documentário conta como o olfato nos leva às memórias mais antigas e permanentes. Bebês podem reconhecer a mãe poucos dias após o nascimento. Pacientes com Alzheimer em estágio avançado conseguem relembrar pessoas e momentos. Só pelo cheiro.

 
Ilustração
Galvão Bertazzi/Folhapress

Fiquei tão fascinada que comecei a cheirar tudo para acessar minha memória olfativa. Alimentos, objetos e lugares. Me peguei farejando uma parede, o sofá de casa, até mesmo o cabelo de uma mulher na fila da farmácia. Eis algumas conclusões fascinantes:

Cheiro de sabonete Phebo me remete a anestesia e brocas. Isso porque meu dentista lavava mãos com esse item de higiene. E não usava luvas.

Xixi de gato me lembra a pracinha do lado da casa da minha mãe. Durante o dia, playground. À noite, toalete e motel de felinos.

Cheiro de cigarro, mesmo depois de conviver com milhares de fumantes (e tendo sido eu mesma uma), ainda me leva ao jardim de infância. Minha primeira professora era fumante. O que me lembra também que sobrevivi aos anos 1980. E à toxoplasmose.

Além de saudosista, o olfato é nosso sentido mais primitivo. É ele que nos conecta a outros animais, que sobrevivem e se reproduzem por meio dos cheiros. É aí que volto ao "O Nariz".

No documentário, perfumistas falam sobre uma das fontes dos melhores perfumes, o âmbar cinzento. Trata-se do nome gourmet de uma pedra encontrada no intestino de cetáceos. Ou seja, o cheiro mais gostoso do mundo é: excremento de baleia.

A gente tenta se sofisticar com perfumes, essências e fragrâncias, mas, no fundo, somos todos bichos. O ser humano gosta mesmo é de um cheiro de cocô.

Fiquem com essa verdade.

Para os bichos farejadores que se interessarem, "O Nariz" está no catálogo da Netflix.

Ilustração
Galvão Bertazzi/Folhapress

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