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Ficar adulto é fantasiar com malha ferroviária e pornografia imobiliária

Maturidade desloca o tesão a lugares insuspeitos, e o chamado 'conteúdo adulto' parece coisa de adolescente

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Estávamos no tempo das reuniões presenciais, essa extravagância do passado. A poucas horas da gravação do "Greg News", ficamos sempre desesperados e, nesse dia, mais tensos do que nunca. Quando olho pra tela da diretora, Alessandra Orofino, me deparo com um site de aluguel de apartamentos, com uma dúzia de abas abertas.

"Você vai se mudar?", pergunto. Ela faz que não e diz, envergonhada: "É que quando tô muito tensa preciso ver uns apartamentos pra relaxar". A Redação inteira sorri, maravilhada, ao descobrir o vício compartilhado. Todos então confessam que perdem horas vendo apartamentos alheios. O Quinto Andar, ao que parece, funciona como um XVideos, um lugar pra se fantasiar com outra vida, nisso que batizamos de pornografia imobiliária.

A maturidade desloca o tesão pra lugares insuspeitos. Chamam de "conteúdo adulto" a pornografia, mas parece mais adolescente: adulto quer chão de taco e cozinha integrada.

O pornô imobiliário, claro, é só a ponta do iceberg. Na pandemia, muita gente se afundou no pesadíssimo pornô eletrodoméstico. Quantas tardes perdi pesquisando o melhor aspirador-robô —que acabei não comprando. Sou capaz de dissertar por um bom tempo sobre as utilidades da panela de pressão elétrica que eu não tenho.

Confesso, no entanto, que não é com eletrodomésticos que eu sonho, mas com as ferrovias que chegamos a ter e com todas as que poderíamos ter tido. Tenho sonhos molhados com a famigerada linha 3, que ligaria Rio e Niterói por debaixo da terra, a conclusão da linha 1, formando um círculo e conectando Gávea e Uruguai —a estação, não o país (por enquanto).

Minha pornografia predileta é a malha ferroviária, e minha Cicciolina é o trem-bala. Imagina Rio-São Paulo em duas horas porta a porta, do Copan a Copacabana, do largo do Machado ao da Batata, sem atraso, filas, turbulência, nem combustível fóssil, nem raio-x.

Em três horas, iríamos do Rio de Janeiro ao Rio Vermelho e, com mais uma horinha, chegaríamos aonde o rio Beberibe se encontra com o Capibaribe pra formar o oceano Atlântico. Imagina esse Carnaval.

As fantasias do pornô tradicional, em que uma vizinha seminua toca à minha porta, já me parecem bobas. Antes de dormir, fecho os olhos e imagino o famoso TBB, o trem-bala brasileiro, singrando país adentro, conectando metrópoles e levando aspiradores-robôs pra todos os lares da nação.

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