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Descrição de chapéu

Já que CEO do Bradesco está de prontidão, poderia procurar os desaparecidos

Apesar de ser um dos homens mais poderosos do Brasil, dá pra ver nos seus olhos a subserviência, o pavor, o cagaço

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Tive muita dificuldade em entender o que o CEO do Bradesco diz no seu vídeo em tributo ao Exército brasileiro. A dicção da pessoa fica comprometida quando ela tem um coturno na boca. Pra ser justo, não dá pra saber se é mesmo um coturno ou apenas um saco escrotal.

O que não entendi mesmo foi o propósito. Não é como se o Exército estivesse precisando do apoio do Bradesco. O general brasileiro nunca ganhou tão bem —em dinheiro, mas também em viagens no avião da FAB pra toda família e próteses penianas de última geração. Ainda assim, o CEO achou que precisava gravar um vídeo ajudando a manter os generais de cabeça erguida. Caso a prótese não funcione, ele já avisou que vai estar sempre a postos pra dar aquela mãozinha. Já diz o lema: braço forte, mão amiga.

Ilustração publicada em 7 de junho - Catarina Bessell

Trata-se de um dos homens mais poderosos do Brasil. Ainda assim, dá pra ver nos seus olhos a subserviência, o pavor, o cagaço. E o mais louco: nem teve golpe ainda. Talvez nem tenha. Ainda assim, ele achou por bem fazer um vídeo pra deixar claro que, caso o golpe aconteça, ele vai estar do lado de quem estiver armado.

"O soldado 939 Lazari continua de prontidão", diz o CEO, como se sua expertise corporativa fosse servir pra alguma coisa numa trincheira. Não encontrei nenhum vídeo do sujeito em solidariedade aos milhões de pessoas que perderam um familiar por causa da incompetência de um general no Ministério da Saúde. Esses talvez estivessem precisando um pouco mais da sua empatia.

O vídeo, segundo o Bradesco, não tem nada a ver com o Bradesco —que nem sequer tinha conhecimento dele. Ainda assim o CEO cita o Bradesco, sua posição no Bradesco e parece ter gravado dentro do Bradesco. Talvez valha o Bradesco investir em câmeras de segurança.

Na contramão do soldado Lazari, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno de Araújo Pereira estavam sozinhos, na Amazônia, investigando o garimpo e a pesca ilegal —quando desapareceram. Até o presente momento, ainda não foram encontrados. Até o presente momento, o Exército ainda não mandou nenhum helicóptero pra fazer a busca.

Já que o soldado Lazari está de prontidão —e parece não ter muito o que fazer— poderia ir lá pessoalmente procurar os desaparecidos. Ou ao menos mandar algum dos seus helicópteros. Faz um exercício de imaginação, soldado. Imagina que fosse o seu filho, seu irmão ou, pior, seu general.

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