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Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

Colocando a mãe no meio

Quantos ainda chorarão a perda de suas mães e pais pela estupidez de Bolsonaro?

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Quando vi minha mãe recebendo a vacina contra a Covid, na semana passada, senti um misto de alívio e angústia. Alívio por ver uma pessoa que amo, enfim, protegida do vírus. Dona Ivete, paraibana de Campina Grande, se formou em medicina na UFPB e veio pra São Paulo fazer sua residência no Hospital das Clínicas. Nunca mais saiu de lá.

Uma vida dedicada ao SUS, convivendo com o sofrimento em todas suas dimensões e combatendo ao lado de tantos outros profissionais da saúde, inclusive do meu pai. Com eles aprendi que a medicina é uma ciência humana, mais do que biológica. Quando criança, tinha dificuldade de entender a ausência, resultado de uma rotina dura de trabalho no ambulatório, nos plantões. Mas me lembro do carinho e dos olhos brilhando com que ela falava —e até hoje fala— de seus pacientes.

Gente humilde, que às vezes ela ajudava com o dinheiro da passagem. Foi ouvindo minha mãe falar dessas histórias de vida que tive minhas primeiras aulas de sensibilidade social. Histórias de muitos Severinos, nordestinos como ela, tentando se livrar da "morte que se morre de velhice antes dos 30, de emboscada antes dos 20, de fome um pouco por dia".

Quando veio a pandemia, ela, por ser do grupo de risco, ficou um período em casa. Mas depois voltou a atender no hospital, para aflição minha e de minhas irmãs. Imaginem nossa alegria quando ela recebeu a vacina, junto com os demais profissionais do HC.

Mas, como disse, o alívio veio com uma ponta de angústia. Lembrei de companheiros que perderam a mãe por Covid. Lembrei da dona Tereza, em quarentena desde março, sofrendo de depressão pelo isolamento.

Da dona Maria Creuza, entubada numa UTI lutando pela vida. E de tantas Marias, que pegam ônibus lotado todo dia, rezando para não serem contaminadas. É mais fácil vê-las como mera estatística, um número a mais no balanço do dia. Mas para mim são as mães dos meus vizinhos, amigos, que não sabem quando vão poder se vacinar, graças à irresponsabilidade intencional de um governo assassino.

Quantos ainda terão de chorar a perda de suas mães e pais pela estupidez de Bolsonaro?

Essa é a grande questão do Brasil de 2021. Tirar pelo impeachment aquele que tem causado tanta dor e sofrimento é não apenas uma questão política, mas humanitária. Se os mais de 200 mil mortos incrivelmente ainda podem soar para muitos como um número frio, visto pela grossa lente da indiferença, tentemos por um instante nos colocar no lugar desses milhões de Terezas e Marias.

Por todas elas, o Brasil precisa se livrar desse covarde que hoje ocupa a Presidência da República.

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