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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Perdidos na matemática

Livro pode ser descrito como uma grande lavagem da roupa suja da física

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Nossos cérebros têm uma inexplicável disposição para relacionar beleza com verdade. Até réus atraentes tendem a ser inocentados com mais frequência do que os feios.

Que o homem não seja um poço de objetividade é esperado. Mais incômodo é constatar que também os físicos, em tese treinados para buscar a verdade por trás das aparências, são vítimas desse viés.

​Destrinchar esse imbroglio é a missão de “Lost in Math” (perdidos na matemática), de Sabine Hossenfelder. A tese central da autora é que a física tem um corpo de regras não escritas que transforma princípios como naturalidade, simplicidade (ou elegância) e beleza em critérios para elaborar e avaliar teorias. O problema, diz Hossenfelder, é que não há nada menos científico do que isso. Em nenhum lugar está escrito que a natureza precisa ser bela ou elegante. 

A autocorreção que deveria vir pelos testes empíricos não está acontecendo e cientistas, cada vez mais, vêm propondo teorias cuja elegância matemática, acreditam eles, é grande demais para não conter um elemento de verdade. É por isso, sustenta a autora, que ideias quase impossíveis de testar, como a do multiverso e a das supercordas, prosperam e se tornam mais populares entre os físicos, ao preço de afastar a ciência de sua propalada objetividade.

Sim, “Lost in Math” pode ser descrito como uma grande lavagem da roupa suja da física, mas é um livro gostoso de ler, bem-humorado e informativo. Hossenfelder mostra, por exemplo, que a supersimetria (SUSY), outra teoria elegante para explicar a estrutura da matéria, insiste em não ser corroborada pelos testes, apesar de investirmos bilhões de dólares em aceleradores de partículas cada vez mais poderosos.

A ausência de assinaturas da SUSY nas supercolisões nos obriga a ir ficando com o Modelo Padrão, que é praticamente um Frankenstein tamanhas sua feiura e deselegância. O ponto é que, a menos que creiamos num Deus esteta, a natureza pode perfeitamente ser feia e complicada.

 
Sabine Hossenfelder, autora de 'Lost in Math' (perdidos na matemática) - Reprodução

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