Siga a folha

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

O medo como remédio

Numa epidemia, uma das principais linhas de defesa coletiva é o medo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Sempre que escrevo sobre a cloroquina, leitores simpáticos ao uso "off-label" do fármaco me contestam. Até aí, normal. Mas usam muito amiúde um argumento que, penso, merece reflexão. Dizem que a droga deve ser prescrita, entre outras razões, porque a ciência não oferece outro tratamento contra a moléstia.

A afirmação não é 100% verdadeira, mas deixemos passar. A base do argumento é a ideia de que os médicos precisam fazer alguma coisa, mesmo quando não há nenhum remédio efetivo disponível. Soa estranho, mas a tese não é absurda.

O efeito placebo, afinal, é um fenômeno real e poderoso. Numa série de afecções, o simples fato de o paciente julgar que está recebendo tratamento já tem impacto positivo para a cura.

Se os placebos são assim tão bacanas, por que a medicina não os utiliza mais? A discussão aqui se torna ética. Apesar de meus pendores consequencialistas, defendo uma medicina bem kantiana, em que a transparência nas comunicações e a autonomia do paciente possam se materializar em grau máximo.

Nesse paradigma, o médico, quando diretamente questionado, não tem direito de mentir nem pode impor ao paciente nenhuma terapia com a qual este não concorde (exceção feita a quadros de psicose). O uso do placebo nubla em algum grau a transparência.

Admito, porém, que meu paradigma não é universalizável. Há pacientes que preferem ser poupados de más notícias e de decisões difíceis. O bom médico é justamente aquele tem sensibilidade para perceber quanta informação o paciente quer receber e dispensá-la na dose exata.

Voltando à cloroquina, o efeito placebo funciona mais para moléstias com forte componente psicossomático e quase nada para doenças infecciosas, nas quais pode ser um risco. Numa epidemia, uma das principais linhas de defesa coletiva é o medo, que faz com que as pessoas evitem situações de contágio. Sugerir tratamentos ilusórios mina essa defesa.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas