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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Aprender é um ato social

Só funcionamos direito quando interagimos uns com os outros

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Por que é importante que a garotada volte a ter aulas presenciais? Embora a mitologia do individualismo muitas vezes faça com que pensemos em nós mesmos como ilhas de autonomia, a verdade é que somos biológica e culturalmente uma espécie hipersocial, isto é, só funcionamos direito quando interagimos uns com os outros.

Volta às aulas no segundo semestre de 2021 na escola Luminova, na Barra Funda, em São Paulo - Danilo Verpa - 2.ago.21/Folhapress

O melhor exemplo, creio, é a linguagem. O ser humano já vem de fábrica com uma espécie de instinto da linguagem que faz com que ele aprenda a falar de forma quase automática. Basta lançar um bebê numa comunidade de falantes que, ao cabo de três ou quatro anos, ele se transformará num indivíduo linguisticamente competente. Não é preciso fazer mais nada, diferentemente da leitura/escrita, que requer ensino explícito.

A palavra-chave aqui é comunidade. Esse tipo de aprendizado depende de interações físicas. Se você tinha planos de ensinar inglês a seu filho deixando-o ver horas e horas de programas infantis americanos com o áudio no som original, pode esquecer. Não funciona. Pesquisadores como Susan Ervin-Tripp, nos anos 70, e Peyton Todd e Jane Aitchison, nos 80, mostraram como crianças que não eram expostas à linguagem oral de forma interativa nos primeiros anos de vida ficavam com sérias deficiências para ouvir e falar.

E não é só. O triste caso dos orfanatos romenos nos anos 80 e 90 ensinou que o próprio desenvolvimento normal de um bebê depende de interações positivas com pelo menos um cuidador primário.

Não estou, obviamente, afirmando que o ensino à distância seja impossível. Se você consegue aprender a consertar a geladeira vendo um vídeo no YouTube, também é possível aprender física quântica e hitita remotamente. Mas é preciso ter já uma certa idade, isto é, capacidade de abstração, e a motivação específica.

Vamos torcer para que, agora, as aulas presenciais não sofram novas interrupções. Especialmente para os pequenos, elas são essenciais.

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