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Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

Portugal precisa conhecer mais os brasileiros que abriga

Imigrantes não deveriam ser vistos como 'os outros', e sim como contribuintes valiosos para a sociedade lusa

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Em um mundo cada vez mais globalizado, a circulação de pessoas deveria ser vista como uma oportunidade de enriquecimento cultural mútuo. No entanto, o aumento do número de imigrantes brasileiros em Portugal tem também despertado relatos de xenofobia.

Mas seria esse um fenômeno novo ou simplesmente uma manifestação amplificada pelo desconhecimento?

Vista da igreja Nossa Senhora da Consolação e da praça da República do Brasil, que formam um dos mais belos cenários da cidade de Guimarães, em Portugal - Cleber Sandes - 29.jun.23/Folhapress

O desconhecimento gera medo, e o medo, por sua vez, alimenta o ódio. Como Edward Said escreveu em "Orientalismo", a propósito do Islã, também o intenso movimento migratório do Brasil para Portugal está aumentando a percepção de desconhecimento (ou de conhecimento distorcido), levando a estereótipos e preconceitos que alimentam hostilidades. É urgente agir.

O aumento do número de imigrantes brasileiros no país luso gera um natural aumento de episódios de potencial conflito e consequente destaque na mídia sobre racismo e xenofobia. Assistimos, porém, a um fenômeno complexo que não pode ser reduzido apenas a uma variável.

É verdade que Portugal, sendo uma nação que partilha laços históricos e linguísticos com o Brasil, tem neste incremento do número de brasileiros trabalhando em seu território uma oportunidade única para resolver seu problema demográfico. Mas, para ser bem-sucedido, o país precisa construir uma coexistência mais harmoniosa com essa população através da criação de políticas públicas educacionais e culturais.

O reconhecimento da diversidade é o primeiro e crucial passo a ser dado para não permitir que a ignorância seja utilizada como arma por extremistas políticos ou jornais sensacionalistas. É urgente criar programas de intercâmbio cultural, como por exemplo aulas de história e cultura brasileira nas escolas, e aumentar o número de eventos que possam servir como pontes de entendimento.

Além disso, dada a sua importância no desenvolvimento futuro de Portugal, seria benéfico criar campanhas que facilitem a integração dos imigrantes e mostrem como eles são necessários, garantindo que sejam vistos não como "os outros", mas como contribuintes valiosos para a sociedade que hoje Portugal não pode dispensar.

São também urgentes todos os esforços de "diplomacia cidadã" que inspirem os políticos a promover medidas de interação e entendimento mútuo. A iniciativa deve vir não apenas dos governos, mas também de organizações civis, meios de comunicação e, claro, cidadãos.

Mas, nesta era de informação, o desconhecimento é uma escolha. Uma perigosa escolha, acrescento, em que o maior risco é o surgimento de um cenário em que o ódio seja naturalizado e a intolerância se torne a norma.

Apenas o investimento em conhecimento mútuo pode atuar como um antídoto contra o medo e o ódio. Apenas esse conhecimento e essa partilha nos ajudarão a criar a sociedade coesa e integrada de que precisamos.

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