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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Neste estranho país, surgem defensores do direito de contaminar

Vivemos um drama jamais visto e nos recusamos a trancar a porta mesmo depois de arrombada

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Cada um faz da sua vida o que bem entender. É sagrado o direito de ir e vir. Como contestar?

É simples. No fazer o que bem entender cabe matar o próximo?

Podem a rara leitora e o raro leitor irem até ali distribuir o novo coronavírus e voltarem sorridentes para casa?

Não, não são exageros retóricos, nem absurdos teóricos.

Gabigol e seu neurônio acharam que não havia nada demais em dar um pulo ao cassino e fazer sua fezinha —releve o fato de ser a casa clandestina e o jogo proibido no Brasil.

Contravenção é fichinha perto do risco de ser infectado e infectar com a Covid-19.

O jogador Gabriel Barbosa, o Gabigol, é detido em cassino clandestino em São Paulo - Divulgação Governo do Estado de São Paulo

O lúcido Vampeta, aquele que deu justas cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto, em 2002, para comemorar o pentacampeonato, e denunciar o absurdo a que foram submetidos os jogadores, 26 horas de avião e mais cinco entre o aeroporto de Brasília e o palácio, também achou normal festejar seu aniversário com jogo de futebol no interior baiano.

Afinal, pensaram o artilheiro e o ex-jogador, se aqui na terra estão jogando futebol que mal há em jogar também um pôquer ou uma pelada?

Até entre formadores de opinião há os que comparam as medidas obrigatórias, e tardias, de isolamento social ao estado de sítio, para fazer coro com o genocida que exalta ditaduras. Estimulam o que chamam de desobediência civil, Gandhis e Luther Kings com sinal trocado, neo-Jim Jones, isto sim. Com adesão de jovens desmiolados pelo país afora.

Vivemos um drama jamais visto no Brasil, caminhamos para 300 mil mortos celeremente em pouco mais de um ano de pandemia e nos recusamos a trancar a porta mesmo depois de ter sido arrombada duas vezes.

Discutimos, contra as evidências científicas, a necessidade do trancamento, e não é porque lockdown soe estranho para a maioria dos nativos monoglotas.

Mas porque a economia não pode parar, o futebol é inofensivo, todos vamos morrer, e entre a opinião de Jorge Pagura e de Drauzio Varella existe quem prefira ficar com a do cartola da CBF.

Para não fulanizar a questão nem será lembrado aqui que Pagura teve de renunciar ao posto de secretário de Esportes, Lazer e Juventude de São Paulo em 2011, ao ser acusado de fraudes em hospitais.

Chuta-se a torto e a direito, acredita-se no que é aparentemente mais confortável, manda-se a escanteio a racionalidade e vomita-se arrogância diante de temas sobre os quais apenas os especialistas respeitados entendem, não os charlatães que para aparecer receitam cloroquina ou previram 2.100 mortes, como um tal Osmar Terra Plana.

A coluna não se surpreenderá se nesta segunda-feira (15) o governador Joãozinho Nove voltar atrás e ceder aos apelos da Federação Paulista de Futebol e dos clubes para continuar com o Paulistinha.

O pior é que caso não recue estaremos diante da ameaça da realização dos jogos fora de São Paulo, numa verdadeira CC, Caravana da Covid, pelo país afora, em concorrência fúnebre com a Copa do Brasil pelos grotões nacionais.

É preciso, imediatamente, estancar a escalada assassina da necropolítica federal, e exigir firmeza dos governos estaduais e municipais.

No futuro, será hora de responsabilizar judicialmente os que concorreram para o tamanho da calamidade.

Nos palácios, nas empresas, nas federações e clubes e nas redações.

Somos quase 300 mil mortos!

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