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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Viva a exportação de pé de obra

O Palmeiras faz quase um bilhão de reais com apenas três vendas de seus talentos

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Primeiro foi Endrick, então com 16 anos, negociado com o Real Madrid, por quantia que deve chegar a R$ 260 milhões.

Endrick em jogo do Palmeiras em novembro de 2022 - AFP

Depois Luis Guilherme, 18, por R$ 173 milhões, com o West Ham, e, agora, Estêvão, 17, cedido ao Chelsea por R$ 358 milhões.

Tudo somado, chegamos ao mirabolante montante de R$ 791 milhões, que o exagero permite chamar de quase um bilhão, pois fica mais sonoro.

Como resistir? Desista.

Estêvão na partida Palmeiras 2 x 0 Vasco, no Allianz Parque - Divulgação/Palmeiras

Pior: sem choro, nem vela, apenas uma fita amarela para embrulhar o pacote, a cor da camisa da seleção brasileira, que, por sinal, estreia nesta segunda-feira (24) na Copa América, contra a Costa Rica.

Antigamente, a saída de um ídolo ou de uma promessa era lamentada pelo torcedor.

Hoje em dia, se não chega a ser comemorada como conquista de campeonato, é saudada pelos que torcem também pelo balanço dos clubes, além da torcida pelos times.

Faz sentido, porque a boa gestão é meio caminho para as taças, embora, cá entre nós, vender pé de obra jovem e trazer de volta o envelhecido dá mesmo vontade de chorar.

Como fazer frente ao dólar, ao euro, à libra?


Com campeonatos rentáveis, de qualidade, disputados racionalmente, dentro de calendários sensatos, com os talentos que brotam nesta terra em que se plantando tudo dá, como escreveu Pero Vaz de Caminha em 1500.

Endrick, Luis Guilherme e Estêvão.

Quem não queria vê-los mais em nossos maltratados gramados, outro fator a fazê-los querer jogar naqueles impecáveis vistos pela TV?

A gola marrenta de Endrick, os dribles de Luis Guilherme, suas enfiadas de bola, e os gols e quase gols de Estêvão, um deles, entre os quase, contra o Bragantino, que o Rei Pelé assinaria, farão a alegria de espanhóis e ingleses, enquanto nós ficamos com a sensação de que alguma coisa está fora da ordem na nova ordem mundial.

Três meninos que deixam para trás vidas modestas e entram para o clube dos milionários; e, por isso, é claro, um viva a eles.

Pois também o Flamengo não teve de se curvar ao Real Madrid e vender Vinicius Junior, aos 16, por R$ 164 milhões, em 2017?

Em agosto de 2012, dias antes de completar 20 anos, Lucas Moura foi embora para o PSG, por R$ 108 milhões.

Em agosto de 2023, ele voltou ao São Paulo, aos 31.

Luiz Gustavo, aos 20, em 2007, foi jogar na Alemanha, no Hoffenheim, e voltou ao Brasil, para o Morumbi, no fim do ano passado, aos 36.

O que tinham a dar de melhor eles deram na Europa, embora Lucas Moura, principalmente, ainda faça diferença aqui e ali.

Willian, aos 19, trocou o Corinthians pelo Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, muito longe do Primeiro Mundo do futebol, por R$ 38 milhões.

Willian em partida pelo Shakhtar Donetsk em 2012 - AFP

Depois de fazer sucesso na Inglaterra, voltou ao Parque São Jorge, aos 33.

A Fiel exigiu que fizesse o que um dia havia feito e logo o que ele fez foram as malas para retornar ao Reino Unido.

Houve um tempo em que o Brasil vendia matéria-prima e comprava manufaturada.

Nosso futebol faz parecido: exporta talento fresco e importa envelhecido.

E Lula erra ao dizer, para a rádio Mirante do Maranhão, que a CBF deveria montar a seleção só com jogadores que atuam no país.

Porque abriria mão dos melhores e sacrificaria ainda mais os clubes que cedessem jogadores com torneios em andamento.

O presidente deveria é tentar convencer a cartolagem a introduzir o Século 21 em nosso medíocre futebol.


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