Siga a folha

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

Descrição de chapéu Cinema

'Não Olhe para Cima' é uma aula de liberalismo

Sátira revela a descrença na capacidade da política de resolver nossos problemas

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Fui assistir "Não Olhe para Cima" com má vontade, esperando uma sátira militante, uma caricatura de quem questiona visões apocalípticas da menina-pastora Greta Thunberg. Terminei dando boas risadas sobre essa ópera bufa que é a política.

Muita gente de esquerda festejou o lançamento da Netflix como um ataque a negacionistas e a quem se recusa a seguir o que recomenda "a ciência" sobre a pandemia ou as mudanças climáticas. Mas a mensagem do filme é um pouco mais abrangente.

"Não Olhe para Cima" é uma sátira à política como um todo. Revela a crescente desilusão das pessoas com a capacidade dos políticos e do sistema democrático de resolver (e até mesmo diagnosticar) nossos problemas.

Diante das trapalhadas da presidente americana interpretada por Meryl Streep, é impossível não se perguntar: como foi que cometemos a loucura de delegar a políticos (pessoas eleitas por falar banalidades que o povo quer ouvir) funções fundamentais como o combate a pandemias e ao aquecimento do planeta?

Não é meio absurdo destinar tanto dinheiro e poder a uma organização que pode ser liderada por Bolsonaro, Trump, Lula, Maduro, Collor, Dilma, Wilson Witzel ou pela presidente Janie Orlean?

Disseram que o filme foi inspirado no Brasil. Parece mesmo. A politização da pandemia pelo governo Bolsonaro tem tudo a ver com o enredo.

O governo Dilma também encaixa bem na história. É bom lembrar que, em 2014, especialistas passaram meses alertando Dilma sobre o meteoro fiscal que atingiria o país, mas a presidente resolveu seguir gastando para garantir a reeleição. "Não olhe para o rombo fiscal!"

Anos antes, durante a construção da usina de Belo Monte, especialistas passaram muito mais que 6 meses e 14 dias alertando que daria errado construir uma usina a fio d’água no rio Xingu.

Mas Lula, Dilma e as empreiteiras aliadas não deram ouvidos (exatamente como no filme). Hoje, por conta da baixa vazão do rio, Belo Monte fica metade do ano parada. A empresa que a administra decidiu construir termelétricas para abastecer a população que vive ao redor da hidrelétrica.

A lição que se pode tirar de "Não Olhe para Cima" é: "parem de depender do Estado para resolver problemas e questões emergenciais". Parte da sociedade já segue essa recomendação –como o movimento empresarial ESG.

Tenho dúvidas em relação à onda ESG (principalmente se seus especialistas de fato sabem o que é melhor para o meio ambiente). Mas há um lado positivo no movimento. Ele torna políticos desnecessários: como num mundo anarcocapitalista, tenta criar um regramento privado para lidar com problemas de ação coletiva.

A sociedade civil deveria agir da mesma forma diante da ameaça de vírus ou asteroides.

Dado que eleitores volta e meia escolhem políticos que mal conseguem colocar uma máscara no rosto e dado que não há garantia de que os eleitores deixarão de fazer essas escolhas, a sociedade precisa se preparar para lidar sozinha com situações emergenciais.

Quem tiver alguma dúvida dessa necessidade basta rever algumas cenas de "Não Olhe para Cima".

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas