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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Descrição de chapéu Maratona

'Black Bird' hipnotiza espectador com serial killer ambíguo e história real

Paul Walter Hauser interpreta vilão cheio de nuances, enquanto Taron Egerton é traficante playboy alistado pelo FBI

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"Black Bird", cujo sexto e último episódio acaba de ir ao ar na Apple TV+, pode não ser um drama memorável. Poucos que assistirem a essa minissérie de fundo verídico, no entanto, vão se esquecer de seu personagem central.

É um homem de costeletas gigantes (ele viaja o miolo do país para encenar a Guerra Civil americana), rotundo, de voz incomodamente suave e olhos perdidos, que alterna divagações sobre peças de carros e sobre uma infância idílica que nunca o foi com observações cortantes.

Paul Walter Hauser e Taron Egerton em cena da série 'Black Bird', do Apple TV+ - Divulgação

Está preso pelo assassinato de duas adolescentes nos anos 1990, talvez tenha matado mais. Talvez não tenha matado ninguém. Eis a história.

Larry Hall podia ser mais um da longa linha de psicopatas produzidos pela cultura americana, fissurada em serial killers como só ela.

O ator Paul Walter Hauser, contudo, não deixa o personagem cair na vala comum de vilões que pouco mais são do que um adereço na jornada heroica do protagonista (no caso, Taron Egerton, o Elton John em "Rocketman").

Comediante na maior parte de sua carreira, relegado a participações menores até Clint Eastwood lhe confiar o papel-título de "O Caso Richard Jewell" (2019), ele carrega com impressionante sutileza esse personagem tão dúbio.

Ao dotar seu Larry Hall de nuances e camadas que tornam doçura e cinismo igualmente críveis, Hauser engole as cenas e abduz a empatia do público sorrateiramente.

O resultado é a versão cênica do dilema do gato de Schrödinger (aquele que está vivo e morto): ele é inocente e culpado ao mesmo tempo, manipulando certezas da polícia na série e do espectador em casa sem resvalar em clichês.

A minissérie bebe em história verídica registrada em livro por Jimmy Keene e Hillel Levin. Vivido por Egerton, Keene é um traficante playboy alistado pelo FBI para decifrar Hall em troca de ter anulada sua pena de dez anos de cadeia.

Transferido para a prisão de segurança máxima onde está o seu antagonista, ele precisa tirar do suposto assassino a localização dos corpos das vítimas e assim evitar a soltura de um possível monstro sob alegação de confissão falsa.

O texto de Dennis Lehane, roteirista do magistral "Sobre Meninos e Lobos" (também sobre predadores sexuais, polícia e infâncias terríveis e também dirigido por Eastwood) às vezes soa moralista em sua exploração das diferenças de oportunidades entre os dois personagens.

Brilha, entretanto, nos diálogos que emolduram um inesperado "bromance" e na construção dos eixos entre o presente de Hall e seu passado de filho de um coveiro pouco honesto, uma vida toda no limiar entre o triste e o sinistro.

Greg Kinnear e Sepideh Moafi conduzem bem a dupla de policiais obcecada com o caso Hall (não é difícil entender o porquê dessa obsessão). Como o pai de Keene "Black Bird" traz Ray Liotta, em aparição póstuma na pele de um policial que parece se esvair em culpa por seus erros na criação do filho, talvez uma bonita despedida das telas —morto em maio, o ator de " Os Bons Companheiros" deixou mais trabalhos prontos.

"Black Bird" está disponível na Apple TV

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