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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Revival de 'Cidade de Deus' em série adota ritmo de videogame e acaba com a mágica do filme

Série que estreia neste domingo resgata personagens do filme mostra avanço das milícias

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Não existe em "Cidade de Deus: a Luta Não Para" aquela cadência mágica que marcou o filme original, de 2002.

Mas há a hiperviolência que consagrou Aly Muritiba, o diretor de "Cangaço Novo" (Amazon Prime Video), na qual o som de tiros quase sempre se sobrepõe aos diálogos, e o ritmo acelerado de um game prevalece.

Há até o ponto de vista do atirador/jogador, encampado pelas fotos produzidas por Wilson/Buscapé (Alexandre Rodrigues, que também interpretou o personagem duas décadas atrás), agora um premiado fotojornalista especializado em registrar a morte.

A ação se passa em 2004, 20 anos após o filme anterior, e os personagens envelheceram. Sem saber se mira no público do filme original ou em quem chegou agora, a série acaba exagerando nas digressões para explicar ou lembrar ao espectador quem é quem, inclusive personagens secundários, num resultado que trunca o enredo com miniflashbacks e muitas vezes resulta enfadonho.

Superado esse obstáculo, porém, é boa a história que a série se propõe a contar, a de como as milícias ganharam poder nas comunidades cariocas ao mesmo tempo em que se deu a transformação do tráfico "amador" em um negócio imenso dominado por facções incrivelmente organizadas (e armadas).

No centro da história —didaticamente relatada em off por Wilson/Buscapé, eis aí outro problema— está a briga de poder dentro de uma mesma família do tráfico.

É a deixa para dois importantes novos personagens: o chefão Curió (Marcos Palmeira, muito bem no papel), que tem o poder contestado pelo próprio filho, Bradock (Thiago Martins), num enredo meio shakespeariano.

E aí pululam personagens já conhecidos, entre policiais corruptos, milicianos, jornalistas, mães solo que carregam uma comunidade inteira nas costas, políticos sonhadores e outros cinicamente realistas.

Algo, entretanto, se perdeu.

"Cidade de Deus", dirigido por Fernando Meirelles e Katia Lund, arrebatou público e crítica quando estreou em 2002. Com atores desconhecidos, muitos deles jovens e com origem similar à de seus personagens, o filme contou a história de dois amigos criados na mesma favela que, entre o crime e adversidades, seguem rumos distintos na vida.

Cenas como o longo plano-sequência em que uma galinha foge para não virar ensopado se tornaram emblemáticas, tal qual as figuras de Dadinho/Zé Pequeno e Buscapé.

A obra adaptada a partir do romance de Paulo Lins era uma narrativa agridoce, que mostrava o nascimento de algo grave e grotesco como é a guerra entre tráfico e polícia no Rio do ponto de vista de adolescentes transformados muito cedo em adultos.

Ao misturar algo de cinema novo, um quê de neorrealismo italiano e um pouco de videoclipe, Meirelles criou ali uma cadência nova para contar uma história brutal, ainda que tremendamente humana.

Muritiba tem seu próprio estilo, tem talento e conta com o aval de Meirelles, que assina a produção ao lado de Andrea Barata Ribeiro. Talvez mais afeito aos tempos atuais, ao ritmo insano dos games filmes de heróis, ao nosso curto espectro de atenção.

Mas, com tantos desses em exibição, também sem o mesmo impacto da obra que se tornou uma das mais memoráveis do cinema nacional.


"Cidade de Deus: A Luta Não Para" estreia às 21h neste domingo (25), no Max e na HBO, com novos episódios semanais até o fim de setembro

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