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Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

Que tal uma santa ceia islâmica?

Queria ver esses caras gozarem com o islã como gozaram com o cristianismo

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Façamos um exercício de imaginação ativa hoje. Se você não tiver estômago, como é comum no ambiente cultural, pare e não leia o que vem a seguir.

Imagine que ao longo dos dias das Olimpíadas em Paris, o criador da cerimônia de abertura e todos os participantes da "cena revolucionária" da Santa Ceia fossem fuzilados por brigadas cristãs furiosas que gritassem "Jesus é grande!".

Como acha que o mundo da cultura local e internacional —ocidental, claro— reagiria?

Ilustração de Ricardo Cammarota para a coluna do Pondé do dia 28 de julho de 2024 - Ricardo Cammarota

"Inteligentinhos" em geral —que gozaram com o deboche da Santa Ceia achando-o um marco revolucionário— teriam surtos epileptiformes. "Que horror! Quanta violência!"

"Deus do céu!" —a exclamação cai bem no tema em questão. Como é fácil dar xeque mate na esquerda "woke", basta você ter dois neurônios e um pouco de colhão, porque eles não têm nenhum desses substantivos em questão.

Queria ver essa cambada de frouxo gozar com o islã como gozaram com o cristianismo —a população islâmica francesa é significativa, aliás.

Lembrando bem, em janeiro de 2015, mataram os caras da Charlie Hebdo em Paris porque zoaram com o profeta Maomé, e houve "inteligentinho" humorista por aí que quase disse que os cartunistas eram culpados por terem sido assassinados porque tiraram sarro de uma população oprimida.

Pessoalmente, "adoro" essa lógica oprimido-opressor no que tange ao mundo do pensamento público.

Nunca inventaram mau-caratismo maior desde as mentiras nazistas sobre os judeus ou o "sucesso socialista" de Stálin.

Mas voltemos ao nosso exercício imaginativo. Vejo as manchetes horrorizadas: "Fascistas franceses mostram a sua cara!". Em se tratando da França: "Merecem a guilhotina!".

Articulistas se perguntariam: "Por que tamanho horror? De onde vem esse ódio da ultradireita?".

Lula e companhia suspeitariam de que a família Bolsonaro estava por trás disso. Ou um braço do povo de 8 de janeiro de 2023. Pediriam a extradição para o Brasil dos criminosos? Boatos dizem que em meio a eles existiam evangélicos com dupla nacionalidade, uma delas, sendo brasileira, logo, objetos do STF.

"Reacionários odeiam a arte!" Faculdades de humanas fariam horas de silêncio em homenagem às vítimas, que, de fato, seriam vítimas, como os cartunistas da Charlie Hebdo.

Queimariam igrejas? Duvido, "são da paz". Mais provável que fariam uma grande manifestação na Bastilha —com participação do tarado do Mélenchon—, e na Paulista —com participação da classe artística nacional—, todos com flores vermelhas nas mãos pedindo o controle radical das redes que levaram à organização dos grupos cristãos antidemocráticos e à multiplicação dos discursos de ódio que geraram tamanho ato de terror.

Bandeiras do Hamas seriam usadas como símbolos pela paz universal e democracia. Jornalistas, intelectuais e cantores afirmariam com absoluta certeza que houve um dedo da Le Pen e do Bardella nos ataques terroristas. Torcedores da Kamala Harris acusariam Trump de ter financiado os atos.

O primeiro ministro de Israel "Bibi" Netanyahu seria identificado como a mente malvada por trás dos atos —afinal, o judaísmo é o "pai" do cristianismo, e Jesus era judeu, logo, sionista.

Manifestos de arte-ativistas nas redes pediriam o fim do direito à liberdade religiosa no que tange a grupos cristãos "fundamentalistas", em nome da defesa da democracia.

Grupos de WhatsApp no Brasil fariam memes chorosos de como o mundo desandou nos últimos anos. "De onde vem tanto ódio?" "Por que não podemos viver como os hippies propuseram? Paz e amor", sendo vagabundos sem trabalhar.

E os fascistas da ultradireita? Onde estariam esses miseráveis que empesteiam o mundo? Meloni, Orbán, Putin apontariam os dedos rindo do "Ocidente"?

Basta de imaginação ativa. Por que a esquerda "woke" acha que pode cuspir em um ícone sagrado do cristianismo —que não é a minha fé, já que não tenho nenhuma—, a Santa Ceia?

Essa é fácil de responder. Porque há décadas a inteligência pública é composta na sua quase totalidade por delinquentes adolescentes com capacidade cognitiva e política duvidosa.

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