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Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Por que separar o artista de sua obra?

Misturar estética e política pode gerar sanha punitivista

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Feministas cancelaram Picasso. Pensei que o motivo fosse o trocadilho fálico com o nome do pintor, mas não. Picasso era machista e violento com as namoradas. Um problema grave, de fato. Mas lembrei que Che Guevara era homofóbico e que a cantora Nina Simone cometeu abusos físicos e psicológicos contra a filha. Viram cancelamento nesses casos? Nem eu.

Retrato do pintor Pablo Picasso. - Divulgação

"Naquela época, todos eram homofóbicos" ou "Nina era espancada pelo marido, era genial e gênios são mentalmente instáveis". Está certo colocar as atitudes nos contextos histórico e pessoal. Então, como fica Picasso? Naquela época, a maioria dos homens era machista, artistas são narcisistas e o pintor espanhol também era genial. Porém, para mim, nada disso importa, basta separar a vida do artista da obra: admiro telas de Picasso e sou fã da música de Nina Simone.


Para a militância, então, só vale cancelar quando o alvo representa o inimigo. Picasso é o homem branco, síntese do mal para o feminismo contemporâneo. Conhecer a vida dos artistas ajuda a compor o entendimento das obras, mas levar apenas isso em conta denota ignorância estética e gera uma sanha punitivista puritana: o pecado (a política) está em tudo. O cancelamento encerra a arte no mundo racional e materialista da política e do social e, assim, adeus, estética.


Essa forma de considerar cada ínfimo aspecto da vida sempre a partir de relações de poder (política) deve muito ao paradigma pós-moderno nas ciências humanas (como Helen Pluckrose e James Lindsay mostram no livro "Teorias Cínicas"). Um dos expoentes desse paradigma foi Michel Foucault, que defendeu a descriminalização de relações sexuais entre adultos e menores de 15 anos (idade do consentimento na França da época). Para o filósofo francês, crianças podem sentir desejo sexual por adultos e, se não há coerção e violência física, não há crime. Viram Foucault sendo cancelado? Nem eu. Ainda bem, há textos de Foucault que são interessantes, assim como as telas de Picasso.

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