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Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Lygia Maria

Que feminismo queremos?

Sanha punitivista dos cancelamentos fragiliza mulheres, que passam a encarar o sexo só pelo prisma do medo

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O filme "Tár" não ganhou o Oscar, mas trouxe à tona o problema do chamado cancelamento. Na história, a brilhante regente Lydia Tár sofre uma escalada de acusações de assédio contra suas pupilas e colegas de trabalho. O tribunal das redes sociais rapidamente a condena. Tár é demitida, não consegue mais emprego de prestígio e acaba num país pobre do sudeste asiático.

Cate Blanchett em cena do filme "Tár", de Todd Field - Divulgação

Sem julgamento, contraditório ou defesa, a pena veio. A opacidade da narrativa cinematográfica —nunca sabemos ao certo se a regente de fato fez o que alegam que ela fez— mostra a postura que deveríamos ter sobre acusações online: a da incerteza. Caso contrário, corre-se o risco de destruir vidas de inocentes.


Não apenas isso, estamos fragilizando as mulheres. Tal sanha punitivista gera graves consequências psicológicas, já que afeta a sexualidade. Querer expurgar as relações de poder do sexo expõe ignorância flagrante sobre o funcionamento do erotismo. Não existe ação erótica igualitária, e jogos de poder não implicam necessariamente em violência. Mas as novas gerações estão aprendendo a encarar o desejo sexual só pelo prisma do medo. E o medo é a pior forma de autoconhecimento. Por isso acarreta dominação.


Segundo Espinosa, é uma "paixão triste", o afeto mais manipulado pelo soberano para garantir a manutenção do poder. Não à toa, governos totalitários, de direita e de esquerda, são baseados no terror. É até o nome de um período da Revolução Francesa, durante o qual muitas cabeças rolaram —inclusive a de Robespierre, líder da revolução.

Vamos destruir a nós mesmas? Apoiamos um movimento autofágico?

Precisamos escolher afinal que feminismo queremos. O que estimula o medo em jovens mulheres e as deixa vulneráveis, aos homens e ao Estado, ou um que as incentive em direção ao conhecimento da sua sexualidade —o que as torna mais livres e confiantes para lidar com as relações de poder (posto que eróticas) entre os corpos, sejam elas ruins ou deliciosas.

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