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Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

Militância sem graça

Sob pretexto de defesa das minorias, cruzada contra o humor é, na verdade, manifestação de tirania

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Há por aí uma cruzada contra o riso. Humoristas como Ricky Gervais e Dave Chappelle já notaram o problema. "Essa guerra contra as piadas precisa acabar", afirmou o comediante Bill Maher em seu programa da HBO, após relatar diversos casos de cancelamentos de colegas de profissão —e muito pode ser dito sobre esses três, menos que são conservadores de direita.

O mais curioso, para não dizer absurdo, é o fato de que a turba indignada em nada se parece com velhinhas carolas ou milicos golpistas. Na verdade, são ditos progressistas com curso superior. Como disse Maher, "antes, os jovens iam para faculdade para perder a virgindade; hoje, vão para perder o senso de humor".

O comediante Bill Maher, durante chegada a evento em Beverly Hills, California (EUA) - Danny Moloshok - 27.mar.22/Reuters

A perseguição não afeta só comediantes, nem é causada apenas por piadas preconceituosas. Qualquer cidadão que use uma rede social já se viu enredado em discussões sem sentido porque parte dos leitores é incapaz de compreender ironia, até quando usada contra políticos.

De fato, o mecanismo intrínseco dessa figura de linguagem, descrito brilhantemente por William Empson, é: "A, falando de modo irônico, é entendido como pretendia por B, mas não por C, um tirano estúpido".

Não gostar de uma piada, ou não compreendê-la, é normal. O nefasto é promover ataques em bando para que o autor do chiste seja demitido e não consiga mais trabalhos.

Não é preciso agir como censor para que o humor se adapte a novos tempos. Das piadas de A Praça é Nossa para o humor ácido e político da TV Pirata e do Casseta & Planeta, não houve cancelamentos. Mudanças vieram aos poucos pela escolha do público consumidor —mecanismo básico do livre mercado, que vale para bens materiais e simbólicos.

Opor-se à cruzada contra o riso não tem nada a ver com defesa do machismo, do racismo, da homofobia etc. Trata-se de preservar essa habilidade tão humana crucial para o funcionamento das democracias modernas. Afinal, ridicularizar figuras de autoridade e ideias totalizantes é nossa vacina contra a tirania.

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