Siga a folha

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

Descrição de chapéu USP

Ser ou não ser pardo? Eis o delírio

Bancas de avaliação fenotípica em universidades remetem a tribunais raciais de regimes eugenistas

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Causa espanto que bancas em universidades brasileiras avaliem cor da pele, cabelos, nariz e lábios de jovens aprovados pelo regime de cotas.

Essa análise fenotípica remete a tribunais raciais de regimes eugenistas. Se em teoria tal recurso já é imoral, na prática está fadado a erros temerários, ainda mais num país altamente miscigenado como o Brasil.

Não à toa, neste ano a USP recebeu 204 recursos de candidatos que tiveram a autodeclaração racial negada.

Alison dos Santos Rodrigues, 18, teve a autodeclaração racial negada pela USP neste ano e perdeu a vaga em medicina - arquivo pessoal

Se o objetivo é diminuir desigualdades e preconceitos, a reserva de vagas para estudantes da rede pública oriundos de famílias de baixa renda seria suficiente. Mas a mera tentativa de debater o tema já recebe a acusação de racismo. E essa é a faceta nefasta do discurso identitário.

No excelente "Racismo Woke: como a Militância Traiu o Movimento Antiracista", Jonh Mcwhorter, professor da Universidade Columbia, disseca o problema a partir de várias áreas, entre elas, a de cotas.
Segundo pesquisas apresentadas pelo autor, que é negro, alunos de minorias étnicas matriculados em instituições de elite tendem a apresentar baixo rendimento e a desistir da formação, o que não ocorre em universidades preparadas para suprir as lacunas deixadas por uma formação escolar precária.

Por isso, Mcwhorter propõe ações de fato efetivas: investir na educação básica e "superar a ideia de que todos devem ir pra faculdade".

O Brasil gasta US$ 14.735 por aluno no ensino superior, quase a média dos países da OCDE, e apenas US$ 3.583 por aluno no básico (na OCDE, US$ 10.949). Ademais, o ensino técnico, grande promotor de geração de renda, não é valorizado em nosso país. Aqui, só 8% dos alunos do ensino médio cursam a modalidade, ante 44% na média da OCDE, 29% no Chile e 24% na Colômbia.

É preciso interromper a moralização do debate sobre cotas. Dogmas servem à religião, não a políticas públicas. Há diversas medidas que podem ser tomadas para combater o racismo, e apoiar tribunais raciais, definitivamente, não é uma delas.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas