Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Feminismo pragmático

É preciso implementar medidas que atenuem o peso da maternidade como fator principal da disparidade de gênero

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Na ilustração vertical, vemos três mulheres de perfil. Elas estão lado a lado. Todas usam batom. Em primeiro plano, o desenho mostra uma mulher com a pele rosada usando uma blusa vermelha. Ela usa um crachá pendurado no pescoço, tem o cabelo preto de comprimento médio e está com a mão esquerda apoiada na cintura. A mulher que está ao centro tem a pele negra, os cabelos são trançados e presos em um coque alto. Ela usa brincos grandes de argola dourados, uma camisa branca e uma gravata preta. Ela também leva a mão na cintura. A mulher que está mais ao fundo tem os cabelos pretos encaracolados e a pele alaranjada. Ela Sua roupa é verde escuro. Ela veste um capacete de proteção verde claro. Sua mão esquerda segura a aba do capacete.
Ilustração Veridiana Scarpelli

O homo sapiens é uma intrincada engrenagem que articula fatores biológicos e culturais. No caso das mulheres, tal mecanismo é ainda mais claro. A opressão social que esse gênero sofreu ao longo da história surge a partir de uma necessidade imperativa oriunda da maternidade.

Além da gestação, bebês exigem cuidado integral por anos. Assim, mulheres ficavam na segurança do ambiente doméstico, enquanto homens iam para a caça ou a guerra. Em comunidades indígenas, por exemplo, tal organização ainda se verifica.

Com o desenvolvimento tecnológico, conseguimos apenas atenuar a pressão da natureza, não eliminá-la.
Segundo o IBGE, 22% das mulheres com um filho não conseguem trabalhar, ante só 0,55% dos homens na mesma situação. Ademais, elas dedicam 21,3 horas por semana ao cuidado do lar, já eles, 11,7; enquanto 96% delas cozinham e lavam a louça, 66% deles executam essas tarefas.

Pesquisas mostram que, mais do que por preconceito, a disparidade salarial entre os sexos advém do fato de que homens conseguem dedicar mais tempo ao emprego (com horas extras, viagens e finais de semana), já que não carregam o fardo da dupla jornada de trabalho delas.

Portanto, leis de cotas ou de pareamento salarial pouco contribuem para a ascensão social das mulheres.
Em vez de dar atenção excessiva a piadas machistas, à objetificação do corpo feminino no cinema, ao "fiu-fiu", à proibição da pornografia ou à problematização do cavalheirismo, seria mais proveitoso que o feminismo direcionasse energia de modo mais pragmático para eliminar as raízes que impedem a independência financeira das mulheres.

A licença maternidade precisa ser estendida para o casal. É urgente a implementação de uma rede ampla de creches (só 36% das crianças entre 0 e 3 anos estão nelas). Empresas e órgãos públicos devem criar jornadas de trabalho mais flexíveis para as funcionárias. Além, é claro, de mudanças culturais: homens, vocês já são bem grandinhos, então por favor, lavem a louça. É o mínimo.

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