Siga a folha

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

As mariposas e o conservadorismo

Série 'Gentleman in Moscow' mostra como essa perspectiva filosófica funciona como contenção humanista ante mudanças sociais bruscas

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Até o início do século 19, quase todas as mariposas de Manchester, na Inglaterra, tinham asas brancas. Mas a fuligem das fábricas cobriu as árvores da região e dificultou a camuflagem do inseto, que passou a ser capturado mais facilmente por predadores. Com isso, a mariposa de asas escuras, antes ínfima minoria, floresceu e, após cerca de 100 anos, já era dominante no ecossistema.

O fenômeno, conhecido como melanismo industrial, é relatado pelo conde Alexander Rostov, personagem da série "Gentleman in Moscow" interpretado por Ewan McGregor. O aristocrata perde tudo na Revolução de 1917, escapa do fuzilamento por ter um amigo bolchevique e é condenado a passar o resto da vida num hotel no centro de Moscou.

As mariposas de Manchester, um caso clássico de seleção natural, são usadas por Rostov para apontar a barbárie intrínseca a qualquer tipo de revolução ou golpe.

Afinal, mesmo com a intervenção humana na natureza, foi necessário um século para que as traças escuras estabelecessem seu domínio.

Na Rússia socialista, milhares de pessoas inocentes foram encarceradas e assassinadas pelo Estado em poucos meses —prisões e matanças se seguiram por décadas. Nem mesmo a cultura (música, literatura, pintura, gastronomia, religião, arquitetura etc.) escapou do massacre.

Rostov representa a contenção conservadora que visa proteger princípios civilizatórios básicos.

O conservadorismo não é contra o novo, ele busca apenas preservar as conquistas de uma sociedade e a dignidade humana, ante transformações bruscas que não passaram pelo teste do tempo —o que inclui mudanças políticas e econômicas, no meio ambiente ou de aspectos culturais cotidianos, como a linguagem.

Essa é a perspectiva de filósofos como Burke e Oakeshott, que, como as alvas mariposas, não consegue se reproduzir no debate público brasileiro. Toda crítica a teses heterodoxas progressistas é tachada de bolsonarismo, que, por sua vez, não passa de populismo retrógrado.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas