Quando se fala em conservadorismo, tende-se a imaginar bolsonaristas raivosos, beatas carolas e até regimes totalitários como o fascismo.
Contudo, somos mais conservadores do que pensamos. Afinal, nem toda mudança é para melhor e o desconhecido causa medo. Por isso tendemos a conservar práticas e relações que já se provaram úteis ou prazerosas no teste do tempo, e tememos quando somos obrigados a abandoná-las —como morar em outro país ou se divorciar.
Em política, tal postura se manifesta ao preferir medidas pontuais para resolver problemas específicos em vez de grandes mudanças bruscas estruturais. Por isso golpes e revoluções contrariam o espírito conservador: com o propósito de fundar uma sociedade perfeita, acabam gerando caos e violência.
Temos medo do desconhecido e nos sentimos aconchegados com o que é familiar. Como o crítico de gastronomia da animação "Ratatouille", que, ao provar o prato que dá nome ao filme, é transportado para sua infância e acarinhado pela comida caseira da sua mãe.
Essa foi a sensação que muitos tiveram ao ver o polêmico comercial de 70 anos no Brasil da Volkswagen. Polêmico porque, para parte da esquerda, a peça serviu apenas para lembrar da ditadura militar e do conluio da empresa com o regime autoritário no passado.
Trata-se de politização rasteira dos afetos. Os sinalizadores de virtude querem que você se sinta mal por lembrar daquela viagem à praia com a família no Fusca do seu pai.
Por sorte, o mundo não gira em torno da política e algumas coisas nunca mudam, como o papel das emoções na memória e nossa tendência a apreciar o aconchego do já conhecido. Em alguma medida, seremos sempre os mesmos e viveremos como nossos pais.
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