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Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

Descrição de chapéu Israel palestina

Universidade não é tribunal de ideias

Censura no meio acadêmico revela não só autoritarismo, mas incompetência na produção de conhecimento

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Não é só o Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal, que vem cerceando a liberdade de expressão nos últimos anos. O ambiente acadêmico também tem sido autoritário nessa seara, o que causa perplexidade.

Afinal, sabe-se que o poder de polícia estatal tende sempre a buscar a ampliação de seu controle sobre a sociedade —se não o alcança plenamente, isso se deve ao sistema de freios e contrapesos e à esfera do debate público das democracias liberais.

Fachada Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, em Brasília - Pedro Ladeira - 21.jun.2024/Folhapress


Já as universidades são o lugar por excelência do pensamento livre. Logo, nelas, a censura não pode ter vez. Mas foi justamente censura o que se viu no caso do cancelamento do curso que o professor Jorge Gordin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, ministraria neste mês na Universidade de Brasília (UnB).

Tal qual a patrulha ideológica de regimes totalitários, alunos vasculharam opiniões antigas de Gordin sobre Israel nas redes sociais. Acharam apoio às Forças Armadas do país e, com isso, acionaram o Diretório Central dos Estudantes e o Comitê de Solidariedade à Palestina do Distrito Federal para realizarem um protesto.

O Instituto de Ciência Política da UnB cancelou o curso. Em nota, alegou que a medida visa "garantir a segurança da comunidade universitária" e afirmou seu "compromisso com o diálogo respeitoso, a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica".

Não sei o que o instituto entende por "diálogo" e "liberdade", mas impedir a realização de um curso universitário devido a ameaças de estudantes à segurança no campus não remete ao significado desses termos.

A situação fica ainda mais surreal quando se sabe que o curso não teria relação com a guerra em Gaza. Gordin é especialista em política na América Latina.

O episódio vexatório soma-se a outros em universidades pelo país e revela não apenas a postura autoritária do corpo discente, mas uma incapacidade de colocar em prática as ferramentas necessárias para a produção de conhecimento, que deveriam ser trabalhadas no meio acadêmico: racionalidade, retórica e confrontação de dados e opiniões por meio do debate aberto.

Universidade não é tribunal de ideias, mas laboratório.

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