Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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A raposa no galinheiro

Irã na presidência de grupos sobre direitos humanos e armas da ONU parece piada, mas as vítimas da teocracia não estão rindo

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Sabe-se que o poder de alcance da Organização das Nações Unidas é limitado, vide a invasão do Iraque pelos EUA sem a aprovação do Conselho de Segurança. Assim como a política doméstica, a geopolítica envolve acordos e concessões que parecem contraditórios e frustrantes.

De todo modo, trata-se da entidade cuja missão é garantir a segurança global e promover os direitos humanos. Nesse sentido, a relação da ONU com o Irã causa no mínimo espanto e, no limite, indignação por aqueles que foram alvo das atrocidades cometidas pelo regime teocrático e por quem luta contra ele.

Após a Polícia da Moralidade matar Mahsa Amini por não usar o véu como deveria, em setembro de 2022, a onda de protestos que varreu o país foi reprimida com milhares de presos e centenas de mortos. Para investigar violações, a ONU instituiu uma missão independente de apuração, que foi rechaçada pelo Irã.

Mulher segura cartaz durante um protesto em Nova York em solidariedade às mulheres iranianas, no primeiro aniversário da morte de Mahsa Amini - Kena Betancur - 16.set.23/AFP


A missão constatou diversas violações aos direitos humanos. O relator especial da ONU sobre o Irã, Javaid Rehman, disse que as ações do governo poderiam ser enquadradas como crimes contra a humanidade.

Um ano depois, quem foi indicado para presidir o Fórum Social do Conselho de Direitos Humanos do órgão? O Irã. Sim, parece piada.

E não para aí. Sabe-se que o país apoia, até com fornecimento de armas, grupos terroristas, como o libanês Hezbollah e o palestino Hamas, e rebeldes, como os houthis no Iêmen. O diretor da Agência Internacional de Energia Nuclear da ONU diz que é temerária a escalada iraniana no enriquecimento de urânio, cujo volume ultrapassou em 15 vezes os limites firmados em acordo de 2015. O risco é que Teerã seja capaz de produzir bomba atômica.

O que faz a ONU? Permite que o Irã presida a Conferência do Desarmamento entre março e maio deste ano.

Seria cômico, se não fosse trágico. Ao colocar a raposa para cuidar do galinheiro, a ONU avilta o sofrimento das iranianas e sua própria missão, além de fornecer respaldo simbólico a uma teocracia assassina.

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