Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais
É chique ter síndrome de Tony Soprano e se achar cercado de invejosos
Infelizmente não tenho lugar de fala para colar na traseira do carro a frase 'sua inveja é combustível do meu sucesso'
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"Mulher é tudo invejosa." Não posso falar por todas nós, mas preciso admitir uma coisa. Invejo mulheres que penduram um olho grego no colar para se proteger da inveja alheia. Eu as invejo porque não tenho inimigas.
Quando faço um brinde, não tenho a quem desejar vida longa para que testemunhem minhas vitórias. Não tenho público-alvo para postar indiretas no Twitter. Não tenho motivos para postar as hashtags #blindada e #vocêreclamadomeuapogeu na legenda das minhas fotos no Instagram. Não tenho lugar de fala para colar na traseira do meu carro adesivos com frases como: "sua inveja é combustível do meu sucesso". Não tenho um carro.
A vida de quem tapa o umbigo para rebater energia negativa é muito mais lúdica que a minha. Acreditar em energia negativa até vá lá, mas em energia negativa que se acovarda perante um pedaço de esparadrapo é algo que me fascina.
Acho chiquérrimo quem tem síndrome de Tony Soprano e acredita que está cercada de inimigos por todos os lados. Queria ter essa autoestima.
Lembro o dia em que uma cartomante me alertou para tomar cuidado com uma figura feminina que teria inveja de mim. Saí da consulta sonhando acordada com aquela mulher que dedicava seu precioso tempo à minha pessoa. Uma mulher que, dentre os tantos desafios que a vida tem a oferecer, optou por me destruir. Uma mulher que não suportava minhas qualidades, qualidades que eu nem sabia que tinha. Tarde demais: eu queria ser amiga da minha inimiga imaginária.
Não existe afirmação mais falsa do que "mulher é tudo falsa". Quem espalhou esse boato nunca entrou em um banheiro feminino. Um paraíso perdido que a rivalidade feminina não alcança. Onde todas as mulheres estão dispostas a elogiar o seu top e segurar sua testa enquanto você vomita. Eu tatuaria o nome de todas as amigas que fiz no banheiro, se soubesse o nome delas.
Esperei pacientemente minha inimiga emergir das trevas. Mesmo que ela cravasse um punhal em minhas costas, estava disposta a convidá-la para uma cerveja.
Mas ela era uma personagem tão irreal quanto a Fada do Dente. Inclusive, é até mais fácil acreditar em uma mulher que investe seu dinheiro em dentes de criança do que em uma mulher que perde seu tempo odiando outra mulher.
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