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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

Descrição de chapéu machismo

Bruxa de 'A Pequena Sereia' não mente quando diz que mulheres devem se calar

Décadas depois do original, querem mudar a letra de 'Pobres Corações Infelizes', que diz que homem odeia as tagarelas

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A vida não é um conto de fadas. É essa é a moral oculta —e profundamente irônica— de qualquer conto de fadas. Pelo menos essa era a intenção inicial. Acontece que esses contos foram sendo exaustivamente reescritos e empobrecidos simbolicamente. Em parte, por causa do patriarcado, em outra parte, em nome do que chamamos de politicamente correto.

Acabo de ver uma reportagem sobre o lançamento do live-action de "A Pequena Sereia" que ilustra perfeitamente esse processo. Eis que o compositor da trilha original deu uma entrevista dizendo que alterou a letra de algumas músicas da clássica animação dos anos 1990, que teriam conteúdo sexista.

Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 11 de abril de 2023 - Silvis

Uma dessas canções é a música-tema da vilã Úrsula, a Bruxa do Mar, "Pobres Corações Infelizes". Refrescando a memória das leitoras, Ariel está em pé de guerra com o pai autoritário e procura a Bruxa do Mar, que promete transformá-la em humana, com uma condição: Ariel precisa perder a sua voz se quiser fazer parte do mundo dos homens —e essa nomenclatura para designar a nossa sociedade de boba não tem nada.

É a deixa para a controversa canção, cujos trechos mais emblemáticos são: "O homem abomina tagarelas/ garota caladinha ele adora!/ Se a mulher ficar falando o dia inteiro fofocando/ o homem se zanga, diz adeus, e vai embora". "Sabe quem é mais querida? É a garota retraída! E só as bem quietinhas vão casar."

Infelizmente, essa bruxa não está mentindo para Ariel. E chegar a essa conclusão não significa que concordamos com ela. Mas fato é que a nossa sociedade, e os homens, ainda incentivam e enaltecem a submissão feminina.

Não é por acaso que a principal característica da Ariel, a heroína dessa história, é a insubmissão. É ela que se apresenta como uma inspiração para as meninas que assistem ao filme, e não a vilã. Até porque o trágico final da Úrsula comprova que a história não acaba nada bem para mulheres que pensam como ela. Mais didático que isso, impossível.

Essa música funciona como uma lição fundamental para Ariel. A sereia realmente acha que vai experimentar uma liberdade fora do reino do pai que só existe na cabeça dela. A canção da Úrsula não destrói o sonho de Ariel, mas a prepara para o que está por vir. O mesmo vale para as pequenas espectadoras do filme, que se colocam no lugar dela. É irônico que essa mensagem acabe sendo levada justamente por uma onda feminista.

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