Chefe: "Como vocês sabem, o resultado do último bimestre foi muito abaixo do esperado e… Quem silenciou o microfone do Flávio?".

Sérgio: "Fui eu chefe, por causa do eco. Não dava pra te ouvir direito".

Chefe: "Isso é contra as diretrizes da empresa. Eu não vou permitir silenciamento na minha equipe. Flavinho, fica à vontade pra se posicionar quando quiser. Bom, como eu ia dizendo, as vendas caíram em Campos, Saquarema e Araruama, que–".

Sérgio: "Em Iguaba Grande aumentaram em 30%".

Chefe: "Sérgio. Você tá me 'manterrupting'?!".

Sérgio: "Eu nem posso fazer isso com você, porque você é homem".

Chefe: "Justamente. Não pode. Interrupção masculina em 2023? Que que há? Tem que respeitar o meu lugar de fala. E quando for a sua vez, eu vou respeitar o seu lugar de fala".

Sérgio: "Lugar de fala não é isso, tem a ver com as condições sociais, financeiras e pessoais de cada indivíduo e–".

Chefe: "'Mansplaining' uma hora dessas? Não fiz um MBA em Massachusetts pra ouvir explicação de macho. Bom, como eu ia dizendo, o público-alvo de Saquarema precisa de um produto mais acessível".

Sérgio: "A gente pode pensar em uma promoção especialmente pra essa filial".

Chefe: "Foi o que eu acabei de dizer. Isso é 'bropriating'".

Sérgio: "'Bropriating' é um termo feminista. Não faz sentido".

Chefe: "Você é contra o feminismo, Sérgio?".

Sérgio: "De forma alguma. Só que 'bropriating' é uma prática utilizada contra as mulheres, quando você se apropria de uma ideia como se fosse sua; e, no seu caso, você não tem lugar de fala pra fazer essa acusação. Seria 'bropriating' se você fosse uma mulher".

Chefe: "Meio machista esse comentário, você não acha?".

Sérgio: "Não tenho que achar nada, chefe. Uma opinião feminina seria melhor".

Chefe: "Nós nunca tivemos um caso de machismo neste setor".

Sérgio: "Talvez porque não tenha uma mulher na equipe".

Chefe: "Não estou gostando do seu tom, Sérgio. Vou ter que reportar sua conduta".

Sérgio: "Que exagero, eu não falei nada demais".

Chefe: "Alá, agora tá fazendo 'girlscrazy'! Me tirando de louco!".

Sérgio: "É 'gaslighting', imbecil".