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Setor produtivo deve investir em design circular

Diretora de sustentabilidade da Braskem analisa desafios da reciclagem no país

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Dando sequência à série iniciada em 17 de maio, dia Internacional da Reciclagem, esta coluna entrevista Fabiana Quiroga, diretora de reciclagem e economia circular da Braskem sobre os desafios para alavancar a reciclagem no país. A empresa é uma das maiores na produção de resinas termoplásticas e biopolímeros, com fábricas Brasil, Estados Unidos, México e Alemanha.

A empresa foi a pioneira na produção do plástico verde em escala industrial no mundo. O polietileno de origem renovável é feito no polo petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul, no Brasil (RS), que produz 200 mil toneladas ao ano.

Fabiana considera que o setor industrial precisa atuar em três frentes para melhorar a reciclagem no país: a criação de produtos que já considerem a facilitação do processo de reciclagem, parcerias em ações de conscientização ambiental e a valorização do produto feito a partir de resina reciclada.

Fabiana Quiroga, diretora de reciclagem e economia circular da Braskem - Divulgação

A seguir, trechos da entrevista.

Como vai a reciclagem no Brasil? Temos entre 800 a mil recicladores em todo o país, com um volume de plástico reciclado de aproximadamente 550 mil toneladas por ano. Há muito o que avançar no processo de reciclagem no Brasil, mas já alcançamos números importantes. Existem alguns desafios que, quando superados, irão impulsionar esses resultados, como o aumento do percentual de coleta seletiva, uma maior formalização da cadeia de reciclagem –que viabiliza a certificação dos materiais e, assim, amplia a valorização dos mesmos– e o engajamento do consumidor no descarte correto de resíduos.

Os índices da reciclagem no país seguem muito baixos. Por quê? Temos oportunidade de aumentar os índices, mas eles não são insignificantes. O estudo “Perfil da Indústria Brasileira de Transformados”, da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), revelou que em 2017 (dado mais recente) o Brasil consumiu 6,5 milhões de toneladas do material, sendo 33% plásticos de vida curta (de até um ano), e que o índice de reciclagem de embalagens foi de 26%, conforme pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA).

Mesmo cidades como São Paulo, com duas usinas mecanizadas, não deu o salto que poderia ter dado. Por quê? A ociosidade ainda é um dos grandes desafios das usinas de reciclagem e a solução passa pelo engajamento de todos os elos desta cadeia. Além do volume de material que chega nestas usinas ser pequeno, a quantidade de rejeito que acompanha o plástico reciclável por conta do descarte incorreto é elevada.

Em cinco tópicos, o que fazer para alavancar a reciclagem no país? Há uma série de desafios para alavancarmos a reciclagem. Dentre eles e, pensando no ciclo de Economia Circular, elenco o comprometimento da indústria de produção e transformação plástica no desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis que considerem itens como design e escolha de matéria-prima para facilitar a reciclagem; o engajamento do consumidor para dispor de forma adequada o resíduo que, consequentemente, aumenta o volume de material para reciclagem, o que é fundamental para que o setor cresça; o envolvimento do setor público na ampliação da coleta seletiva; e o investimento em tecnologia e inovação em sistema de lavagem e extrusão que ampliem as possibilidades de aplicação da resina pós-consumo. Vale destacar também a valorização dos produtos feitos a partir da resina reciclada, aumentando a demanda por este mercado.

Qual o papel das empresas que fabricam, usam e comercializam embalagens na melhoria da reciclagem? Todos nós temos papel fundamental no processo de reciclagem. Se um elo deste caminho estiver enfraquecido, toda a cadeia será impactada. Especificamente na cadeia produtiva, acreditamos que três pontos são fundamentais: o trabalho em conjunto com os parceiros em prol do design circular, ou seja, da criação de produtos que já considerem a facilitação do processo de reciclagem por meio da seleção de matérias-primas, formato, cor; a parceria em ações de conscientização ambiental, que visam ampliar o conhecimento sobre o pós-consumo e a importância do descarte correto; e a valorização do produto feito a partir de resina reciclada. Este último ponto é bastante desafiador, a resina PCR tem algumas restrições de cor, odor e aplicação, é importante o desenvolvimento tecnológico para melhorar estas barreiras, e satisfazer demandas dos transformadores e marcas, além dos consumidores, para valorizarem estes produtos para alavancar o mercado.

Pode dar exemplos desse design circular? Um bom exemplo deste movimento que estamos fazendo com nossa cadeia de valor é a embalagem stand-up pouch monomaterial, desenvolvida em parceria com a Antilhas Flexíveis e lançada em abril deste ano. Ela é feita totalmente à base de polietileno e por isso tem alto índice de reciclabilidade (por não possuir mistura de matérias-primas). Além disso, sua reciclagem gera uma resina pós-consumo de maior qualidade e, consequentemente, com uma gama maior de possibilidades de aplicação. Em uma outra frente, estamos em busca de soluções que contribuam para a neutralização do cheiro nas resinas plásticas pós-consumo. Para isso fizemos uma parceria com a InnoCentive, plataforma de Open Innovation e crowdsourcing. Dos 154 projetos analisados, 25 foram selecionados para a segunda fase e oito finalistas escolhidos para testes, em laboratórios internos da Braskem e externos. Dois pesquisadores alemães apresentaram uma solução que se destaca por reduzir o odor sem diminuir as propriedades da poliolefina, ampliando as possibilidades de aplicação do material, e receberam US$ 30 mil dólares por seu desenvolvimento tecnológico. Neste momento, estamos dando sequência aos testes de validação técnica e econômica.

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