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Bela Adormecida está apreensiva

Ela tem que responder sobre probabilidade de tirar 'cara' no jogo da moeda

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Bela Adormecida, assídua leitora desta coluna, está apreensiva. Foi convidada a participar em um experimento científico a partir de domingo.  

O primeiro dia é fácil, ela só precisa dormir. Então os organizadores lançarão uma moeda: se der cara, ela será acordada na segunda-feira para uma entrevista; se der coroa, será acordada e entrevistada tanto na segunda quanto na terça-feira. Ao acordar ela não saberá que dia é nem qual foi o resultado da moeda.

A entrevista consistirá sempre da mesma pergunta: “Em sua opinião, qual é a probabilidade de ter dado cara?” Depois de responder, ela tomará um comprimido para esquecer tudo e voltar a dormir. Na quarta-feira, acordará definitivamente e estará terminado.

Uma moeda é lançada e se der cara, Bela será acordada uma vez antes do fim do estudo; Se der coroa, duas. Ao acordar ela não saberá que dia é nem qual foi o resultado da moeda - Nona Lohr - Public Domain Pictures

Bela estava tranquila: “a moeda é equilibrada, logo a probabilidade de dar cara tem que ser 1/2, entende?” explicou-me. Mas descobriu que há quem alegue que é apenas 1/3, pois se der coroa ela será acordada duas vezes, e se der cara apenas uma. Essa ideia foi formalizada em 2000 pelo filósofo Adam Elga, da Universidade de Princeton. O argumento dele é o seguinte.

A cada vez que Bela acordar haverá três casos possíveis: A2 = deu cara, e é segunda-feira; O2 = deu coroa, e é segunda; e O3 = deu coroa, e é terça. As probabilidades de A2 e O2 são iguais, porque a moeda é equilibrada. As probabilidades de O2 e O3 também são iguais, pois quando dá coroa os procedimentos nos dois dias são idênticos. Então, os três casos são igualmente prováveis, ou seja, todos têm probabilidade 1/3. Portanto, cara (que só ocorre no A2) também tem probabilidade 1/3.

Então, é 1/2 ou 1/3? “Já há centenas de trabalhos publicados sobre o assunto, e não chegam a um consenso!”, aflige-se a princesa.

A turma do 1/2 ataca o argumento de Elga com o seguinte raciocínio: como a moeda é equilibrada, na hora em que for dormir (no domingo, antes do lançamento da moeda) Bela tem que acreditar que a probabilidade de dar cara é 1/2. Mas até acordar na segunda-feira ela não terá nenhuma informação adicional. Então, por que mudaria de opinião?!

Os partidários do 1/3 replicam que Bela adquire nova informação sim: o simples fato de estar acordada, consciente, mesmo não sabendo mais nada. Um ponto de vista muito peculiar...

Bela preocupa-se porque o acordo é que a cada vez que acordar depositarão R$ 6.000 na conta dela se tiver dado cara, e sacarão R$ 4.500 se tiver dado coroa. Caso a probabilidade seja 1/2, o valor esperado (1/2) x 6.000 – (1/2) x 4.500 = 750 reais é positivo. O dinheirinho viria a calhar, princesas têm tantas despesas hoje em dia... Mas se for 1/3, o valor esperado (1/3) x 6.000 – (2/3) x 4.500 = – 1000 reais é negativo, e nesse caso o trato é desvantajoso!

E você, cara leitora, estimado leitor: em sua opinião, Bela deve aceitar a proposta ou não? Respostas são bem-vindas pelo e-mail.

(Aprendi esta história com o meu amigo Jorge Buescu, da Universidade de Lisboa).

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