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Advogado, é membro da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP.

Descrição de chapéu jornalismo

Folha, 100; eu, quase 50; até hoje não acredito que sou colunista

A leitura do jornal contribuiu para forjar meu caráter e alicerçou minhas convicções em bases sólidas

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Eu e meu pai, dr. Luis, morto em 1985, íamos ao Bar do Geraldo no final dos anos 1970, na esquina de casa, na rua Clélia, na Lapa (zona oeste de SP).

Lá, eu comia um misto quente enquanto ele lia o jornal, sempre começando pela parte de esportes, para saber sobre o nosso Coringão. Eu achava aquilo o máximo. Foi lá que aprendi a ler as tiras dos quadrinhos.

Lembro da minha avó, dona Dina, que hoje teria 111 anos, pondo seus óculos para ler a Folha no sofá de casa. Brava, sempre xingava quando lia alguma notícia ruim.

Mas foi minha mãe, a doce dona Bertha, que já nos deixou faz tempo, quem me ensinou o delicioso vício de ler jornal e tomar café.

Ela devorava as páginas, sempre começando pela Ilustrada, enquanto detonávamos uma garrafa térmica inteira. Filho temporão de cinco irmãos —e o mais mimado, naturalmente—, era acordado todas as manhãs com um café fresquinho na cama.

Fui crescendo e meu bom e velho hábito de ler a Folha tomando café foi ganhando requintes, manias... Até hoje só consigo ler o jornal impresso: tenho extrema dificuldade para ler uma notícia inteira pelo celular.

Leio a Folha de trás para a frente —e só consigo lê-la assim. Cada caderno concluído é posto no chão, sempre dobrado ao meio. Já o café tem de ser extremamente forte, curto e amargo. Tomo vários enquanto leio, e o prazer que sinto é indescritível.

Meus filhos, desde a Ju, que já faz faculdade, o Rafa, mais tecnológico, até a Helena, mais novinha, sempre se aninham quando estou lendo. Parecem entender a magia daquele momento. Acho que se lembrarão do pai sentado na poltrona, lendo o jornal, tomando um monte de café.

Compreensiva, minha mulher, Thais, sabe que amo ficar algumas horas sozinho, aos domingos, lendo a Folha e tomando alguns expressos.

Como esquecer do entregador de Kombi que, bem cedinho, arremessava o jornal na porta de casa? E quando eu rodava a cidade no sábado de noite em busca do jornal de domingo, que só chegava a algumas bancas? Em uma época de pindaíba, entrava em lugares que deixavam jornais e revistas disponíveis e filava uma leiturinha!

Até hoje não acredito que sou colunista da Folha. Minha mãe sentiria muito orgulho de mim.

A leitura diária do jornal certamente contribuiu para forjar meu caráter e alicerçou minhas convicções em bases sólidas. Trabalho no escritório, na TV, no rádio, mas escrever na Folha me enche de orgulho, sobretudo pela importância de nos indignarmos frente ao momento obscuro que vivemos.

Escrevo sobre os 100 anos do jornal com nostalgia e saudade. Tenho déjà-vu, percepções e sensações prazerosas, sempre com meu café amargo e forte. O duo Folha com café só perde para música com vinho, mas aí não tem jeito, né?

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