Siga a folha

[an error occurred while processing this directive]

Uri Geller, o charlatão que veio de longe

Em meados dos anos 1970, 'paranormal' israelense atraiu público no Brasil

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Um aparato de segurança digno de chefe de Estado ocupou os arredores do Palácio das Convenções do Anhembi no dia 19 de julho de 1976. Foi convocada a tropa de elite da PM paulista, além dos melhores policiais civis —​estes, infiltrados no público para monitorar e coibir possíveis ações terroristas.

O auditório —estrutura em forma de pudim de leite que ainda está lá, ao lado da marginal Tietê— receberia o homem que entortou corações, mentes e colheres de todo o Brasil naquele ano. Uri Geller, o fenômeno que veio de Israel. Eu tinha só seis anos de idade. Vi o país parar, mesmerizado por aquele cara de peito peludo que dobrava talheres. 

Na Globo, em 15 de julho, o show de Uri Geller teve 14,5 milhões de telespectadores. Só o capítulo final da novela “Selva de Pedra”, quatro anos antes, fizera sucesso semelhante.

O mago pegava um garfo, fazia cara de prisão de ventre e repetia: “Enntorrta!”.

Deslizando os dedos (aparentemente) sem pressão sobre o garfo, dobrava o maldito. Depois fazia algo parecido com um relógio quebrado: “Funziona!”.

Eu estava com meus pais na praia. Férias de inverno, frio, chuva. Na sala de TV do hotel, os hóspedes depositavam relógios, rádios e outras tranqueiras enguiçadas em volta do aparelho. Nada funzionou, é claro.

Uma multidão sem precedentes era aguardada no Anhembi, para o congresso de parapsicologia com a participação de Uri Geller.

A tensão se justificava. Geller era uma celebridade judaica. Poucos dias antes, o Mossad havia desmantelado o sequestro de um avião da Air France, com cidadãos de Israel, em Entebbe, Uganda. No Canadá, os Jogos Olímpicos eram os primeiros depois do massacre de atletas israelenses em Munique.

Houve ameaças de bomba. O Anhembi era então o centro nevrálgico da Guerra Fria.

Só que apenas um terço das cadeiras do Anhembi foi ocupado. Alegando cansaço, Uri Geller fez seu show pela metade. O esquema de segurança deixou entrar até umas figuras carregando relógios de pêndulo.

Fossem terroristas com explosivos, teríamos um incidente diplomático de Primeiro Mundo. Mas eram só esquisitões terceiro-mundistas. E, sobre o palco, ninguém mais que um charlatão.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas