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Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

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Marcus André Melo

Lula e a política da culpa

A CPI será a arena para o Jogo da Culpa e aumenta o custo do apoio de Lira

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Uma regularidade empírica já bem estabelecida na ciência política é que há um viés de negatividade na vida política. Os atores políticos preocupam-se menos com a reivindicação de crédito por ações benéficas do que com a negação de culpa por eventos com consequências negativas. O viés está associado à maior saliência dos custos em relação aos benefícios nos processos de decisão individual.

Funcionários do Palácio do Planalto iniciam a limpeza da sede do Executivo um dia depois do ataque de militantes bolsonaristas; as sedes do Legislativo e do Supremo Tribunal Federal na praça dos Três Poderes também foram invadidas e vandalizadas - Lucia Távora - 9.jan.23/Xinhua

Em estudo experimental recente, Joshua Robison demonstrou que as estratégias de transferência de culpa são muito menos efetivas quando são oferecidas contra narrativas para os eventos negativos, comparadas com os casos em que não são oferecidas, controlando pelo grau de credibilidade das fontes (e se elas são independentes ou partidárias).

Esses achados são úteis para pensar o atual governo. Lula iniciou o mandato antecipando a transferência, para o presidente do Banco Central, da responsabilidade pelo esperado desempenho pífio da economia, devido ao contexto bastante desfavorável tanto do ponto de vista fiscal doméstico como internacional (pela alta de combustíveis e alimentos, taxa de juros e outros). À primeira vista, a estratégia é contraintuitiva: afinal, a sequência esperada do ciclo político do gasto é primeiro austeridade, depois expansão. Essa inversão deve-se a fatores como a pequena margem de vitória nas eleições, a polarização e o tamanho da oposição. Teme-se uma revolta popular se a economia der com os burros n’água. A experiência de austeridade de Dilma e de diversos presidentes latino-americanos —sobretudo o colapso econômico de Alberto Fernández, na Argentina— pesa.

Lula ganhou um bônus político excepcional: o assalto à praça dos Três Poderes, que criou incentivos para que dobrasse a aposta no plano internacional. Como argumentei aqui, Lula esperava colher as frutas fáceis de colher na política externa e assumia que no plano doméstico o jogo já estaria ganho. A situação se complicou muito nos dois fronts: em vez de atribuir culpa, Lula agora é que está tendo que se explicar.

A divulgação das imagens da invasão do palácio presidencial transformou o bônus em ônus e impactou fortemente o "Jogo da Culpa", na expressão de Christopher Hood. O primeiro efeito é que elas forneceram oportunidade para que a oposição mobilize um contra-argumento. A CPI será a arena onde o jogo da atribuição de culpa terá lugar. O segundo efeito é que o valor relativo do apoio do superbloco de Arthur Lira subiu muito: qual o preço a ser pago para que controle a CPI a favor do governo?

Nada disso causa surpresa: Lira ofereceu um escudo legislativo para Bolsonaro em situação de vulnerabilidade similar. O inverno veio mais cedo que o esperado.

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