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Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

Barreiras na terceira via

A movimentação faz parte da disputa para reorganizar território que vai do centro à ultradireita

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A renúncia de João Doria à candidatura presidencial é um marco na irresistível caminhada do PSDB rumo à irrelevância. Pela primeira vez desde a sua fundação, há 34 anos, a sigla não terá candidato ao Planalto. Exibe assim seu fracasso em recuperar o que perdera em 2018: a capacidade de aglutinar e representar o antipetismo no plano nacional.

João Doria ao anunciar a desistência da candidatura à Presidência da República - Eduardo Knapp - 23.mai.2022/Folhapress


Hoje está claro que o terremoto político que desalojou Dilma Rousseff do Planalto não destruiu a liderança do PT entre as forças situadas do centro para a esquerda do espectro político. Antes, desorganizou o jogo de poder no terreno adversário, abrindo espaço para a vitória eleitoral e a afirmação política da barbárie populista.

Na realidade, a movimentação da chamada terceira via faz parte da disputa para reorganizar o congestionado território que vai do centro à ultradireita, por meio da criação de uma liderança nacional distinta do extremismo autoritário encarnado por Jair Bolsonaro. Analistas respeitáveis acreditam que a desistência do ex-governador de São Paulo abre brecha promissora para uma candidatura que concorra com o ex-capitão pelos votos de quem não quer o PT de volta.

Pesquisas de opinião indicam que, entre os bolsonaristas fiéis e aqueles que gostariam de levar Lula de novo ao Planalto, existem eleitores que rejeitam o presidente e o antagonista. Mas o que os números afirmam, a experiência passada parece negar.

O professor Fernando Limongi, da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, argumenta que, embora em toda eleição o desfecho seja incerto, as regras da disputa presidencial geram um padrão discernível. Desde 1994, a competição se dá entre dois grandes blocos, opondo esquerdas e direitas, com escasso espaço para uma terceira candidatura.

Orientados pelas pesquisas, partidos e eleitores fazem voto útil já na primeira rodada, de tal forma que a seguinte, quando ocorre, apenas confirma o resultado anterior.

Neste ano, as condições são especialmente difíceis para candidatos apropriadamente apelidados "nem-nem". Pela primeira vez estarão na arena um presidente que aspira à reeleição, com a caneta e outros recursos à disposição dos mandatários, e um ex-presidente que participou de seis das oito corridas do gênero, ganhou duas e deixou o cargo aprovado por inéditos 87% dos cidadãos. É pouco provável que esse quadro se altere até outubro.

Os resultados para os governos estaduais e as câmaras legislativas definirão o porte das direitas não bolsonaristas.

Para o bem da democracia, tomara que não sejam eclipsadas pelo que há de mais brutal e primitivo na política brasileira.

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