Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

O que modera é golpista preso

Normalização do bolsonarismo precisa ser revertida, não aprofundada

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Em sua coluna de 29 de abril, Joel Pinheiro da Fonseca argumentou que a centro-direita está muito fraca e que, por isso, precisa se aliar ao "bolsonarismo moderado". Afinal, argumenta o colunista, não faltam exemplos de movimentos guerrilheiros ou mesmo terroristas que moderaram seu discurso e aceitaram a democracia. Por que não os bolsonaristas?

A discussão pode ser útil para estabelecer alguns limites.

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Manifestantes a favor de Jair Bolsonaro (PL), no centro do Rio de Janeiro, pedem intervenção contra vitória de Lula na eleição de 2022 - Eduardo Anizelli - 2.nov.2022/Folhapress

Joel tem razão em dizer que muitos movimentos radicais de esquerda moderaram suas posições, em especial na América Latina dos anos 90. O PT, o Frente Amplio uruguaio, todos estão cheios de ex-guerrilheiros.

Pois bem. Quem, na esquerda sul-americana, não moderou? O chavismo. Por quê? Porque o chavismo era um movimento militar. Tentaram uma quartelada nos anos 90, foram presos, foram anistiados com argumentos muito parecidos com os usados agora para normalizar Bolsonaro, chegaram ao poder, deu no que deu. Se o sujeito tem infiltração no Exército, como Chávez ou Bolsonaro, ele não precisa moderar.

Entre os eleitores de Bolsonaro há gente razoável, brasileiros decentes e capazes que têm todo direito de participar da política brasileira. A direita democrática deve lutar por seus votos, recrutá-los como militantes, lançá-los como candidatos, ouvi-los na formulação de seu programa. Nenhum deles precisa deixar de ser de direita.

Agora, a tarefa da direita moderada é fazê-los deixar de ser bolsonaristas. Se ela não é forte o suficiente para fazê-los mudar de ideia sobre Jair, não vejo por que seria forte suficiente para moderá-los no governo.

Afinal, como o próprio Joel reconhece, os bolsonaristas não admitem que Jair tentou um golpe. Se forem abraçados pelo centro, Jair e os demais golpistas serão anistiados e reincorporados à política brasileira. O próximo golpe já estará encomendado: os políticos bolsonaristas ainda estarão no jogo, e talvez estejam de volta ao poder, quando os coronéis que pretendiam apoiar o golpe em 2022 se tornarem generais.

Veja bem, Joel, eu adoraria que Tarcísio ou Caiado tivessem, para usar a expressão de Nikolas Ferreira, testosterona suficiente para enfrentar Jair. Mas que sinal disso eles deram até agora? Já condenaram o golpe, já se pronunciaram sobre a investigação da PF, já defenderam a prisão do Jair? Aliás: a mídia os tem obrigado a fazê-lo? Isso foi assunto em algum desses eventos empresariais que eles frequentam?

Quando a minha geração fez o trajeto da moderação do marxismo para a centro-esquerda, nós só ganhávamos medalhinha de centrista quando virávamos o Tony Blair, o Palocci, algo assim. No Brasil de 2024, se o direitista aparece dizendo que às vezes tem ereção sem pensar no Ustra, todo mundo já grita "ó só, reencarnou o Tancredo".

Bolsonaro está solto e fazendo comícios, a bancada do golpe preside comissões importantes no Congresso e recruta apoios nos Estados Unidos para a próxima ofensiva contra a democracia brasileira. A normalização do bolsonarismo precisa ser revertida, não aprofundada.

E, sinceramente, não quero voltar ao segundo turno de 2018, quando gente com reputação de centrista e equilibrado discutia sem pudor que risco de pau-de-arara eu deveria aceitar para que eles pudessem evitar o radicalismo de, vejam só, Fernando Haddad.

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