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Jornalista e roteirista de TV.

Inferno é quem idolatra religiosos

De tempos em tempos descobrem que os santos não são santos

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O que me espanta não é o Dalai Lama ter pedido a uma criança que ela chupasse sua língua, me admira que tanta gente tenha ficado chocada que um líder religioso possa ter tido algum tipo de conduta criminosa. Nossa, até o Dalai Lama. Como assim, até o Dalai Lama? De tempos em tempos descobrem que os santos não são santos.

Metade da internet já o condenou, a outra metade aponta demência, aspectos culturais e dificuldade do líder budista com a língua, o inglês. Deixo essa rinha para os outros. O problema não é só o Dalai, é constatar que o mundo que se consterna é o mesmo que dá sustentação a estruturas de poder que atendem pelo nome "religião".

Há décadas chafurdamos em histórias de líderes espirituais pedófilos, estupradores, racistas, misóginos, homofóbicos, assassinos, corruptos, mas a humanidade insiste em transformar homens em divindades, em canais diretos com Deus, com o paraíso ou com o inferno. Mas o inferno é aqui.

Relatos de abuso sexual dentro de igrejas, cultos e grupos espirituais são uma rotina contemporânea de uma prática secular. Um levantamento do Disque 100, canal do governo federal, contabiliza cerca de três casos por semana que envolvem líderes religiosos. A Coame (Combate ao Abuso no Meio Espiritual) diz ter atendido 1.643 vítimas entre setembro de 2018 e junho de 2020, em países como Brasil, Argentina, EUA e Índia.

Dalai Lama, certamente já enaltecido por boa parte das pessoas que o apedreja, é o boi de piranha da vez. Sacrifica-se o santo do pau oco, mas ninguém move um pedregulho para que os alicerces que sustentam as religiões sejam desestabilizados. Em nome da evolução espiritual, seguimos coniventes com abusos econômicos, sociais, sexuais, mantidos pelas igrejas há milênios. Não aprendemos nada com João de Deus, Jim Jones, Prem Baba e outros milhares de bispos, padres, pastores? Claro que não.

O Dalai Lama se desculpou depois que uma filmagem o mostrou perguntando a um menino se ele queria "chupar" a sua língua - Reprodução

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