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O ano em que a política voltou a ser chata

As conversas deixaram de começar com 'e o Bolsonaro?'; com todas as críticas que qualquer mandatário merece, Lula não monopolizou nossas vidas

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Uma das promessas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi de que, com a sua eleição, os eleitores não precisariam pensar em política o tempo todo. É o tipo de coisa que teria ganhado meu voto por aqui.

Por isso, declarei mais de uma vez que votaria em qualquer coisa contra O Inelegível. Queria a todo custo, importar a onda americana, "make politics boring again", algo como "que a política volte a ser chata de novo".

A vida das pessoas deveria pautar a política, não o contrário. Mas, na última década, fomos tragados para um buraco e consumidos pelo medo de perder qualquer capítulo do filme de terror em que todos nós éramos coadjuvantes.

Lula em desfile de Sete de Setembro, em Brasília - Evaristo Sa - 7.set.2023/AFP

Deixamos de lado o trivial, o arroz com feijão, a crônica, a prazer do tédio. Decoramos nomes de ministros do STF, acompanhamos políticos como se fossem superstar, vivemos sobressaltados.

A política tem o dever de ser entediante, mas tem nos roubado tempo e saúde. Estar bem informado não é a mesma coisa que ser refém do noticiário. Em 2023, li o suficiente, falei o necessário sobre o assunto.

As conversas, felizmente, deixaram de começar com o previsível "e o Bolsonaro?". Com todas as críticas que qualquer mandatário merece, Lula não monopolizou nossas vidas.

Um alívio ter no poder gente que não xinga jornalistas, que não faz arminha com a mão, não ameaça alguma minoria, não faz piadas misóginas, não fala "cuestão" ou "no tocante".

Depois da tentativa de golpe no 8 de janeiro, um quase tédio.

Reforma tributária, chato. Teto de gastos, chato. Briga do governo com o Banco Central, chato. O cangaço de Arthur Lira, chato. Haddad contra o fogo amigo do PT, chato. Tudo chato. Que bom.

Depois de anos, não sei mais os nomes de todos os ministros, não leio jornais aos sábados, não acordo com medo de descobrir que o Bozo deu um golpe militar. Aliás, quase não ouço falar dos mesmos. Credo, que delícia.

A Bolsa bateu recorde, o desemprego caiu, tem motivo para celebrar, pode escolher. Para mim, o melhor foi poder voltar a respirar.

E não é porque estou com as vacinas da Covid em dia ou porque o desmatamento na amazônia diminuiu um pouco. Há um ano não temos mais um verme na Presidência.

E este não é um texto exaltação ao atual mandatário, inclusive porque não sou dessas. É só a constatação do grande alívio, da mudança de vibe, de não ter um boquirroto, falastrão, tio do pavê, terror do zap, na Presidência.

Lula está longe de preencher todos os requisitos do bingo progressista. Derrapa feio em velhos preconceitos, dá declarações capacitistas e gordofóbicas. Poderia dizer que é coisa de gente velha, mas seria eu a etarista.

O presidente precisa, de verdade, se não se atualizar, economizar no improviso. Mas, de forma geral, a atuação de Lula como mandatário garantiu um ano chato. Ainda bem.

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