Luís Francisco Carvalho Filho

Advogado criminal, é autor de "Newton" e "Nada mais foi dito nem perguntado"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luís Francisco Carvalho Filho

Inelegível mas impune, Bolsonaro faz parte do cotidiano político

O tempo passa e a tentativa de golpe se transforma em narrativa distante

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O transcurso do tempo é valioso aliado de Jair Bolsonaro.

O repugnante capitão foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral, está tecnicamente inelegível, mas parece distante a perspectiva de sua punição criminal por conspirar contra o regime democrático.

Se o crime político é também pautado pela paixão, o tempo costuma arrefecer o instinto punitivo. O golpista (e, por extensão, o próprio golpe) acaba se normalizando. É o caso de Getúlio Vargas: o tirano do Estado Novo é "absolvido" pela história e vira pai dos pobres, mártir de causas populares.

Mas o foco é Bolsonaro. Há um leque de motivos para o pequeno vaticínio.

Em 18 de julho, a temerária reunião com embaixadores (marco inicial da cadeia de atos que culmina com as destruições de 8 de janeiro) completará dois anos. Mas, por enquanto, só o baixo clero conhece os rigores da lei.

O sistema patina em relação ao ex-presidente. Demora muito. A PF, a PGR e o STF, de forma premeditada ou não, não importa, fazem o jogo dos principais criminosos, civis e militares.

Inelegível, mas impune, livre, o ex-presidente faz parte do cotidiano político do Brasil e, aparentemente, não é mais uma ameaça. Viaja, recebe homenagens. O discurso radical e ofensivo está estrategicamente posto de lado. A decisão do TSE conforta o pensamento democrata e para muitos é suficiente.

Até agora, Jair Bolsonaro está impedido de ser candidato em 2026. Mesmo acreditando que a decisão é injusta, extremista, fruto de um desvio autoritário da ditadura do Judiciário, aliados tradicionais preferem o ex-presidente fora da corrida eleitoral, vitimado, transferindo nos palanques o seu capital político para um projeto direitista supostamente mais ameno.

Em tese, a figura do golpista inspiraria repugnância. Quem apoia golpista ou recebe apoio de golpista merece ser tratado como golpista. Aqui não é assim.

O governador de São Paulo, apoiador sutil da tentativa de golpe, subserviente, cúmplice e aliado incondicional das barbaridades bolsonaristas cometidas ao longo de seu governo, a começar pelo ideal da polícia assassina, é observado como figura política moderada.

0
Tarcísio de Freitas em ato de defesa a Bolsonaro na avenida Paulista, em feveeiro - Bruno Santos/Folhapress

O não desfecho do julgamento do senador Jorge Seif (PL-SC) é um aperitivo da solução "justiça e paz" que se prepara para Jair Bolsonaro.

O ministro Alexandre de Moraes, vítima preferencial dos ataques bolsonaristas nas redes sociais, sempre candidato a eventual pedido de impeachment no Senado, bem menos poderoso depois de deixar o TSE, recebeu, com o aval generoso do governador bolsonarista de São Paulo, a promessa do senador sub judice de não mais falar mal dos veneráveis tribunais brasileiros: a cassação por abuso de poder econômico decorrente da ajuda do empresário fanfarrão Luciano Hang vai assim para as calendas, para dias que não chegam jamais.

O candidato bolsonarista a prefeito de São Paulo, portanto golpista, ainda que meio titubeante, pois se considera homem de "centro", diz que Bolsonaro é perseguido, diz que não houve tentativa de golpe e advoga a anistia dos criminosos do 8 de Janeiro.

Além da simpatia dominante no Congresso Nacional, Jair Bolsonaro conta com o suporte silencioso mas eficaz de ministros do Supremo. Por afinidade ideológica, por puro oportunismo ou pelo temor de vendetas institucionais.

O tempo passa. O golpe se transforma em narrativa distante, improvável, ficcional. A anistia é bandeira política. É esperar e ver.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.