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É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

Descrição de chapéu tênis

Aberto de Madri insiste em estereótipos ultrapassados

De saias curtas a atletas silenciadas, torneio de tênis espanhol teve uma sucessão de atitudes sexistas e de mau gosto

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É difícil saber onde os organizadores do Aberto de Madri de tênis estavam com a cabeça. Victoria Azarenka, campeã de duplas ao lado de Bia Haddad Maia, resumiu como "inaceitável." Foi isso, e mais.

Para quem não viu, segue a sucessão de bolas fora do torneio que terminou semana passada.

Para começar, uma cena bizarra, mas que já aconteceu em Madri: as boleiras de algumas partidas eram modelos altas, magras, usavam blusa justa com barriga de fora e saia curta, enquanto os boleiros vestiam camisa e bermuda.

Boleira na partida Alexander Zverev (Alemanha) x Carlos Alcaraz (Espanha) - Isabel Infantes - 2.mai.23/Reuters

Aryna Sabalenka e Carlos Alcaraz fizeram aniversário no mesmo dia. O espanhol ganhou um bolo de três andares, que precisou ser carregado por quatro pessoas na quadra central, e comemorou com o público. A belarussa recebeu um bem menor, dentro das instalações do torneio. Ambos levaram o título nas disputas de simples.

Depois da decisão de duplas no feminino vencida por Azarenka e Bia, as atletas não puderam fazer discursos de agradecimento, algo que sempre acontece. Os finalistas de duplas masculinas, sim. "Não sei em que século todos estavam vivendo quando tomaram a decisão ou tiveram uma conversa e falaram: ‘Uau, esta é uma grande decisão, e não vai haver nenhuma reação negativa’", disse a vice-campeã Jessica Pegula, que faz parte do conselho de atletas da WTA. Pensei o mesmo.

Organizadores pediram desculpas no Twitter a quem "esperava mais do torneio." Não houve explicação para o que ocorreu, o que dá a entender que a lista de mancadas não foi sem querer. Alguém decidiu e aprovou os protocolos achando normal tratar homens e mulheres de forma diferente. As desculpas e a troca das sainhas por bermudas só vieram depois da repercussão mundial e da enxurrada de críticas de tenistas e público.

Feliciano López, diretor da competição e mais conhecido pelo rostinho bonito do que pelo que fez em quadra como tenista, preferiu ficar na defensiva e ainda zombou do incidente do bolo. Escreveu no Twitter que "estava surpreso pela reação", já que Alcaraz jogava na quadra central, chegou à final e é espanhol, apesar de o torneio ser internacional. E colocou uma foto do dinamarquês Holger Rune com um bolo de aniversário, com um emoji debochado. Infelizmente, li opiniões parecidas.

O ser humano às vezes tem o péssimo hábito de analisar uma situação pela própria perspectiva –quase sempre privilegiada– quando deveria olhar pelo ponto de vista da vítima. Julga em vez de refletir.

Boleiros são crianças e jovens que amam tênis, e muitos sonham ser profissionais. Roger Federer foi um. Qual a mensagem que a saia curta passa para meninas que querem ser atletas? Claro que não é sobre o bolo em si, mas como será que Sabalenka se sentiu?

Especula-se que havia o medo de que Azarenka criticasse o torneio na fala de campeã, e por isso elas foram silenciadas. Se tenistas homens reclamam, estão lutando por seus direitos. Nick Kyrgios desrespeita todo o mundo, e há quem ache engraçado. Mas, se a número um do mundo Iga Swiatek se manifesta por ter jogado a semifinal à 1h da manhã, isso é visto como mimimi?

Aberto de Madri gerou múltiplas reclamações - Oscar del Pozo - 30.abr.23AFP

Compartilho do pensamento de Pegula. Como em 2023 pessoas em posição de poder no esporte acham isso normal e colocam em prática em um torneio prestigiado do circuito? Mas, para os organizadores, fica a lição com dose de ironia, pois tentar tirar o microfone das mãos das mulheres teve o efeito contrário: fez a voz delas ser ainda mais ouvida.

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