Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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O esporte faz o suficiente pelas atletas grávidas?

Caso Serena Williams acelerou debate no tênis, mas ainda há muito a melhorar

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"Mal posso esperar para voltar às quadras, mas há uma pequena atualização de vida para 2023." Foi assim que a tenista japonesa Naomi Osaka anunciou esta semana nas redes sociais que está grávida.

A postagem, com a imagem de um ultrassom do bebê, pôs fim a dias de especulações depois que a ex-número um do mundo desistiu de disputar o Aberto da Austrália sem dar explicações. Ela já havia se afastado das quadras em outra ocasião para cuidar da saúde mental e poderia se tratar de um novo episódio. Era gravidez.

A japonesa Naomi Osaka com o troféu do Daphne Akhurst Memorial Cup de 2021
A japonesa Naomi Osaka com o troféu do Daphne Akhurst Memorial Cup de 2021 - Willian West-20.fev.2021/AFP

Osaka e a alemã Angelique Kerber –três títulos de Grand Slam e também grávida– poderão se beneficiar de uma regra da WTA que entrou em vigor em 2019. A Associação de Tênis Feminino estabeleceu que atletas que se tornam mães têm direito a um ranking especial e protegido que poderá ser usado em 12 torneios ao longo de três anos.

A medida dá um pouco mais de tranquilidade às tenistas, mas será que é o bastante, já que nomes como Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic, entre outros, tiveram filhos ao longo da carreira sem ter que sacrificar em nada suas vidas profissionais ou rankings? A ucraniana Elina Svitolina era número quatro do mundo no fim de 2021, anunciou a gravidez e teve filho no ano passado. Vai voltar em 2023 e despencou para a posição de 236 no ranking. A australiana Ashley Barty e a britânica Johanna Konta são algumas das tenistas que divulgaram recentemente que estão grávidas, mas depois de terem se aposentado.

A história se repete em todos os esportes: atletas adiam a decisão de ser mães o máximo possível ou até desistem de ter filhos. Muitas têm medo de dar a notícia aos técnicos e clubes, a gravidez ser vista como falta de ambição e elas perderem patrocínio ou emprego.

No caso do tênis, o que aconteceu com Serena Williams ajudou na mudança na regra. A americana era número um do mundo quando fez uma pausa na carreira para ter a filha em 2017. Retornou em 2018 na posição 491 e ficou de fora de torneios importantes, o que gerou um grande debate e a WTA reagiu. "Se eu fosse um homem, nem estaria escrevendo isso, já que estaria jogando enquanto minha esposa tem o trabalho físico de aumentar nossa família", desabafou a dona de 23 Grand Slams ao anunciar a aposentadoria no ano passado e encerrar uma trajetória brilhante.

Há pouco mais de um ano, contei aqui neste espaço como o UK Sport, órgão do governo britânico que coordena o esporte no Reino Unido, publicou um guia inédito sobre gravidez, para atletas e organizações. As detalhadas recomendações incluem desde como planejar treinos e competições, como gestores devem criar um ambiente acolhedor até a amamentação, como não excluir a atleta na reta final da gravidez, e dá a garantia de que as que recebem apoio financeiro através do UK Sport terão direito ao benefício até nove meses depois do nascimento do bebê.

Há outras iniciativas no mundo do esporte, e muito a melhorar. Ideias e soluções podem ser moldadas de acordo com cada modalidade, mas o debate tem que continuar. Seria ótimo ver mais ações proativas, em vez de esperar que atletas tenham que virar exemplos negativos para, aí sim, algo mudar. Organizações esportivas e clubes fazem o suficiente? Como ainda precisamos debater muito o assunto, provavelmente a resposta é não.

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