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É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

Seria privilégio Vini Jr. na Premier League, mas também vitória dos racistas

Se casos graves de racismo na Inglaterra endureceram punições, o mesmo pode ocorrer na Espanha?

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A revolta com o racismo sofrido por Vinicius Junior ganhou repercussão global há alguns dias, mas o assunto não é recente aqui na Inglaterra. Há meses a imprensa esportiva inglesa acompanha e denuncia a perseguição ao craque brasileiro.

Reportagem do inglês The Guardian, de fevereiro de 2023, sobre ataques racistas contra Vinicius Junior - Reprodução

Vínhamos seguindo à distância por aqui cada comunicado oficial de repúdio ao racismo, mas só no papel; a cada vez que LaLiga se eximiu de responsabilidade; as inacreditáveis tentativas de colocar a culpa na vítima, enquanto a caça sistemática a ele continuava, com cenas e palavras tão desumanas que dão arrepios só de lembrar.

Depois da fatídica partida contra o Valencia e da declaração do jogador de que "iria até o fim contra os racistas, mesmo que longe daqui", abrindo a possibilidade de deixar o Real Madrid, é consenso pensar que, em uma eventual saída, a alternativa mais provável seria a Premier League –pelo nível de futebol e pelo lado financeiro. Jornalistas esportivos do país afirmam que clubes ingleses deveriam fazer fila para tentar contratá-lo.

Sem dúvida, o combate ao racismo no esporte na Inglaterra não se compara à leniência da Espanha. Não é perfeito, claro, mas se reconhece que o problema existe e há ações práticas de liga, federação inglesa, polícia e governo, unindo punição e educação.

Só para citar alguns casos: em 2019, o Manchester United baniu por tempo indeterminado um indivíduo que proferiu injúrias raciais em Old Trafford contra Trent Alexander-Arnold, do Liverpool. No mesmo ano, o Chelsea usou vídeos e leitura labial como evidência para banir para sempre de seu estádio um homem que ofendeu Raheem Sterling em uma partida contra o Manchester City. Neste ano, após investigação policial, um homem que mandou mensagens racistas no Instagram para Ivan Toney, do Brentford, foi proibido de frequentar qualquer estádio no Reino Unido por três anos.

Reportagem no inglês The Guardian, em 2019, sobre banimento por toda a vida de torcedor por racismo - Reprodução

E por causa dos ataques sofridos nas redes sociais por Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka depois da final da última Eurocopa, em que a Inglaterra perdeu para a Itália nos pênaltis, o governo endureceu as leis, e quem comete racismo na internet pode ser banido de estádios por até dez anos.

Site do governo britânico noticia lei contra racismo no futebol - Reprodução

É impossível saber se Vinicius estaria totalmente seguro na Premier League. Casos de racismo ainda acontecem e, em geral, no mundo inteiro, punições a torcedores e clubes são leves. Mas penso que estaria mais protegido pelo sistema daqui do que no da Espanha.

Há cinco anos, eu estava no Santiago Bernabéu no dia da apresentação do brasileiro no Real Madrid. Educado, ele fez questão de aprender o suficiente em espanhol para dizer que, entre vários clubes, havia escolhido o "maior." Estava sempre sorrindo e visivelmente encantado. Com a pureza de um jovem de 18 anos que acabara de realizar um sonho, falou que estar ao lado de jogadores que só via na TV e no videogame era algo "inexplicável."

Agora, sem querer, Vinicius virou símbolo da luta contra o racismo no esporte. Não teria obrigação nenhuma de se posicionar, mas abraçou a causa. Sobram-lhe talento e coragem. Quem sabe as autoridades finalmente tenham ouvido seus pedidos de ajuda e tomara que esta seja uma oportunidade de mudança depois de décadas de inércia do futebol espanhol. Veremos.

Seria ótimo para a Premier League tê-lo. Ao mesmo tempo, seria triste se esse vier a ser o motivo de sua saída do clube que tanto ama, pois significaria que os racistas venceram.

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