Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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O rei, o esporte e o futuro da monarquia

Coroação de Charles 3° muda programação esportiva e reacende debate sobre papel da família real

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Quem estiver em qualquer lugar com acesso à internet ou à televisão neste sábado (6) com certeza vai saber, mesmo que não queira, sobre o assunto mais comentado do planeta no dia: a coroação de Charles 3°.

Ele já era rei desde a morte da rainha Elizabeth 2ª, em setembro passado, mas é a vez da cerimônia, com toda pompa e tradição britânicas –incluindo uma procissão minuciosamente planejada em que Charles será levado em uma carruagem dourada do Palácio de Buckingham até a Abadia de Westminster, onde será coroado. Uma multidão estará nas ruas, mesmo com previsão de chuva.

A carruagem do Jubileu de Diamante, em foto de 2019, que será usada na cerimônia de coroação - BBC News/Getty Images

Ocasiões importantes ligadas à família real britânica normalmente são no fim de semana e acabam concorrendo com eventos esportivos, que precisam se adaptar. Nesta, que é a primeira coroação desde 1953, não seria diferente. Partidas do Campeonato Inglês deste sábado foram remarcadas, e as que serão disputadas começam depois da cerimônia.

A Premier League pediu que os times toquem o hino nacional, que mudou de "Deus Salve a Rainha" para "Deus Salve o Rei." A decisão é dos clubes e criou um potencial problema para o confronto Liverpool x Brentford. Torcedores do Liverpool já vaiaram o hino antes e o jogo será transmitido pela TV.

O técnico Jürgen Klopp, alemão, disse que não se mete em assuntos domésticos. Poderia ser prudente evitar cenas parecidas com as da semana passada. Em uma partida na Escócia, um dos cantos da torcida do Celtic era mandando o rei "enfiar a coroação naquele lugar".

Em quase seis anos vivendo em Londres, vejo como eventos reais trazem turistas, aumentam o patriotismo e o orgulho dos britânicos. Ao mesmo tempo, pela primeira vez há um questionamento mais forte sobre o futuro da monarquia e seu custo aos cofres públicos, principalmente em um momento em que a população lida com inflação alta e aumento de gastos. A rainha era extremamente popular; Charles nem tanto. Muitos jovens consideram a família real não um símbolo de identidade nacional, mas de subserviência, e acham ultrapassado o argumento de que sua existência se justifica porque gera receita com turismo.

Uma forma de a monarquia se aproximar do público é através do esporte. A rainha amava corridas de cavalos e, em 70 anos de reinado, esteve em todas as competições imagináveis. Até conheceu um outro rei, Pelé, no Maracanã.

A rainha Elizabeth 2ª e o príncipe Philip entregam taça a Pelé no amistoso Seleção Paulista 3 x 2 Seleção Carioca, em novembro de 1968, no Maracanã - Jorge Peter/Agência O Globo

O príncipe William, herdeiro do trono, torce para o Aston Villa e é presidente da Federação de Futebol da Inglaterra. Kate Middleton entrega o troféu do torneio de tênis de Wimbledon aos vencedores todos os anos. A princesa Anne, irmã de Charles, disputou os Jogos Olímpicos de Montreal em 1976 no hipismo e preside a Associação Olímpica Britânica. Segundo os tabloides, o rei é torcedor do Burnley, recém-promovido à primeira divisão.

Jogadorfes do Burnley comemoram o acesso à Primeira Divisão após vitória sobre o Blackburn
Jogadores do Burnley comemoram o acesso à Primeira Divisão após vitória sobre o Blackburn Rovers - burnleyfootballclub.com

A coroação terá uma estrela do futebol. Sam Kerr, atacante do Chelsea feminino e capitã da seleção da Austrália, vai carregar a bandeira de seu país, que faz parte da Comunidade Britânica. O príncipe Harry era um dos maiores embaixadores esportivos da família, até ser, digamos, escanteado.

A australiana Sam Kerr comemora a vitória do Chelsea sobre o Olympique Lyonnais, nos pênaltis, em 30.mar.23, pela Champions League - Matthew Childs - 30.mar.23/Action Images via Reuters

Haverá um grande protesto contra a monarquia no sábado bem perto de onde o rei passará em sua carruagem. E vida que segue. A realeza sempre foi alvo de polêmicas e, enquanto muitos a admiram e outros torcem o nariz, segue fazendo algo fundamental para sua sobrevivência ao longo dos séculos: se reinventando. O esporte continuará sendo um grande aliado.

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