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É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Condenação de Daniel Alves é vitória para as mulheres e para a justiça?

De qualquer forma, não há o que comemorar nesse caso; estupro é uma tragédia

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A simples ideia da possibilidade de um estupro é absolutamente desesperadora para qualquer mulher. Sua esposa, sua irmã, sua mãe, sua amiga, pode ter certeza, todas têm medo. Só de pensar, imediatamente me dá um aperto na barriga, um frio na espinha, enjoo. Aprendemos a passar a vida meio que em alerta sobre onde podemos ir ou não sozinhas, se tal lugar a tal hora vai ser perigoso, por que aquele homem vindo em direção contrária na calçada à noite está olhando de um jeito diferente.

Por isso, mesmo depois da decisão da Justiça espanhola que, nesta quinta-feira (22), condenou Daniel Alves a quatro anos e seis meses de prisão por estupro, o caso não acabou, por diversos motivos.

Uma jovem acusava o ex-jogador de estuprá-la no banheiro de uma boate em Barcelona na noite de 30 de dezembro de 2022. Ele sempre negou a acusação e afirmou, depois de mudar sua versão várias vezes, que a relação sexual foi consensual. Já passou 13 meses na prisão enquanto aguardava julgamento, que devem ser descontados da pena, e ela é bem menor do que os 12 anos que pedia a acusação —tempo máximo para o crime de estupro na Espanha, sem agravantes.

Daniel Alves durante partida entre Brasil e Alemanha pelos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 - Daniel Leal-Olivas - 22.jul.2021/AFP

Ele também teve que pagar €150 mil à vítima (cerca de R$ 800 mil), deverá cumprir cinco anos de liberdade vigiada e se manter afastado da jovem. Fato é que, hoje, Daniel Alves é um homem que foi julgado e condenado pela justiça. Para quem costuma rotular, julgar mulheres ou tenta desclassificá-las em casos deste tipo, é importante lembrar que a indenização foi determinação dos tribunais, não um pedido da vítima. A defesa pedia a absolvição, ou seja, a sentença ficou no meio termo, talvez pendendo mais para o brasileiro, que pode recorrer e conseguir redução da pena. Haverá desdobramentos nos próximos meses.

Daniel Alves se tornou a primeira celebridade a ser condenada por uma nova lei espanhola que determina punições mais severas para violência contra mulheres. A legislação mudou depois do caso conhecido como "La Manada", que condenou a 15 anos de prisão por estupro cinco homens que abusaram de uma jovem e gravaram a cena em 2016. O crime provocou revolta na Espanha. A vítima do caso Daniel Alves conseguiu levar sua denúncia adiante graças aos protocolos e leis espanholas, além de ter sua identidade preservada. Essa é uma grande vitória, pois mostrou que o depoimento dela foi levado a sério, e o resultado reconheceu a verdade da vítima, como disse o advogado da jovem.

No entanto, parte da repercussão que ouvi de quem acompanhou o julgamento de perto foi a de que, como era um caso emblemático e mostraria a seriedade do combate à violência contra a mulher, a punição não foi rígida. Sim, ricos e famosos não ficarão impunes, mas quem tem dinheiro fica menos tempo preso, já que o pagamento antecipado da indenização foi reconhecido como atenuante. Já outros especialistas afirmam que, pela representatividade do caso, ele vai, sim, servir de exemplo.

Por tudo isso, a condenação é uma vitória das mulheres e da justiça? Parece que depende do ponto de vista. Quero acreditar que sim.

Por fim, não há o que se comemorar, principalmente porque um estupro é uma tragédia. Como mulher, é impossível não ter empatia com a jovem. Se cumprir a pena como está neste momento, Daniel Alves sairá da prisão em 2027. Sua reputação está arruinada, mas ele será um homem livre, poderá refazer sua vida. E ela?

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