Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu Futebol Internacional

Henderson e o clube dos arrependidos no futebol da Arábia Saudita

Ex-capitão do Liverpool pode deixar Oriente Médio após transferência polêmica; não seria o único

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Quando Cristiano Ronaldo trocou o Manchester United pelo Al-Nassr, no fim de 2022, deu o pontapé inicial de um movimento seguido por uma série de jogadores que deixariam a Europa em um rumo um tanto desconhecido: a liga da Arábia Saudita. Meses depois, nomes como Karim Benzema, então no Real Madrid, Sadio Mané, no Bayern de Munique, N'Golo Kanté, no Chelsea, e claro, Neymar, no PSG, fizeram o mesmo.

Também Jordan Henderson, então capitão do Liverpool.

A polêmica foi gigantesca. Logo ele, jogador respeitado, engajado em causas sociais, defensor dos direitos LGBTQIA+, indo para um país onde ser homossexual é crime? Logo ele, que tinha um contrato lucrativo com um dos maiores clubes do mundo, defendendo o Al-Etiffaq, em cujas partidas a média de público é de 5.000 pessoas, menos do que na maioria dos clubes da terceira divisão inglesa?

Jordan Henderson, em ação pelo Al-Ettifaq - Hamad I Moammed - 4.nov.23/Reuters

Henderson negou que receberia £ 700 mil por semana (equivalente a R$ 4,3 milhões), jurou que a motivação não era dinheiro, mas sim o projeto apresentado pelo clube e por outro ídolo do Liverpool, Steven Gerrard, que virou seu treinador. Afirmou que poderia ser positivo ter alguém com sua visão em um país conservador. E que, aos 33 anos, imaginando que não seria mais titular no Liverpool, temia perder seu lugar na seleção da Inglaterra.

Um mês após a mudança, deu uma entrevista ao The Athletic dizendo não estar arrependido e que buscava algo que o "empolgasse". Jogou com a seleção em Londres em outubro e foi vaiado. Gravou um vídeo apoiando a Arábia Saudita como sede da Copa do Mundo de 2034.

Nos últimos dias, e apenas seis meses depois de tanta controvérsia, há fortes rumores de que o meio-campo quer sair. Não teria se acostumado com o estilo de vida e o baixo nível do futebol. Uma de suas partidas teve 696 presentes na arquibancada. Para piorar, o Al-Etiffaq não vence há meses e está em oitavo na tabela do campeonato nacional. E, em julho, tem Eurocopa.

Henderson não seria o único. Tabloides ingleses –nem sempre confiáveis, embora, ao mesmo tempo, tenham jornalistas com ótimas fontes– afirmam que alguns jogadores estariam "odiando cada minuto da liga da Arábia Saudita" e lamentando ter deixado o futebol europeu.

Que fique claro que Henderson não falou sobre o assunto. Mas uma saída não depende só dele. O clube com que assinou contrato por três temporadas diz que ele não está à venda ou disponível para empréstimo.

Também segundo o The Athletic, uma volta ao futebol inglês seria difícil porque sairia bem caro. Por regras fiscais britânicas, ele teria que pagar impostos altíssimos, potencialmente mais de £ 20 milhões (R$ 123,9 milhões), se voltasse ao Reino Unido antes de abril de 2025 sem acordo com o Al-Etiffaq. Uma transferência para outro país europeu seria uma possível solução. O Ajax, da Holanda, aparece no momento como potencial interessado em Henderson nesta janela de transferências de inverno, que se fecha em 1º de fevereiro.

Não é demérito jogar na liga árabe, se essa é a opção de carreira, e há clubes e jogos com estádios lotados. Nas próximas janelas, veremos se este é ou não um caso isolado. Há uma divisão na cobertura esportiva inglesa entre quem considera Henderson um hipócrita e os que têm empatia, dizendo que o jogador sabia das consequências e decidiu ir mesmo assim, mas tem o direito de mudar de ideia se quer pagar o preço –financeiro e de reputação.

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