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Ernesto Araújo assume num momento propício para a mudança

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A nomeação de Ernesto Araújo para chefiar o Itamaraty produziu barulho ensurdecedor. Esta é minha tentativa de separar o ruído daquilo que importa.

Bolsonaro encomendou uma guinada de política externa para sinalizar fidelidade ao programa que o elegeu. A transformação começará por Cuba, Venezuela, BNDES e cooperação jurídica internacional.

Ainda é cedo para cravar o resto da agenda, mas uma coisa é certa: a política externa do próximo governo não será pautada pelas ideias do blog do novo chanceler ou de seu ensaio sobre Deus e Trump.

Seus escritos pregressos importam porque expressam valores caros ao candidato que obteve maioria eleitoral. Mas a operacionalização dessas ideias em política externa são outros quinhentos. O resultado dependerá de uma correlação de forças que vai muito além do Itamaraty.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, e Ernesto Araújo - Sergio Lima/AFP

Isso dito, o novo chanceler assume num momento propício para a mudança, e sua gestão já começa com um trunfo: a tese da diplomacia petista segundo a qual a multipolaridade seria benigna provou estar equivocada. Antes, a competição geopolítica voltou à cena com fúria, ao passo que organismos internacionais e tentativas de governança coletiva acumulam rachaduras.

Além disso, o chanceler assume num momento em que crime organizado, contrabando e narcotráfico constituem a maior ameaça transnacional à qualidade de vida da maioria dos brasileiros. Isso permitirá ao governo dobrar sua aposta de campanha em segurança nacional e refestelar-se nos negócios que dela derivam.

O chanceler também tem a vantagem de servir a um presidente que desconfia da China. As razões alegadas para a desconfiança estão equivocadas e a forma de expressá-las é tosca, mas a intuição geral é correta: há tempos, o Brasil devia ter ajustado sua política externa à ascensão da Ásia.

Há espaço para uma diplomacia bolsonarista que não seja um desastre completo?

Penso que sim, embora reconheça que as chances de êxito são limitadas.

O presidente pode cometer erros de principiante, como fazer concessões aos EUA a troco de nada. Ele pode atiçar os chineses com Taiwan, pagando um custo que ainda não imagina. Ou ele pode insistir com Jerusalém contra melhor conselho de seus generais.

O chanceler pode repetir críticas infundadas ao globalismo, embora seu governo saiba que a abertura da economia a um mundo bem regulado é o único caminho para tirar o país do atoleiro.

Acima de tudo, o governo pode se dobrar aos grupos de interesse que capturam a política externa. Esses querem manter o país fechado ao mundo.

O maior risco à política externa não é a ideologia. Não foi com Lula, não será com Bolsonaro.

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