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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

Máquina de falar

Mais apresentador do que candidato, Datena tropeça em debates na televisão

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Ensaiando disputar eleições desde 2016, o jornalista José Luiz Datena tem dado indicações de que neste ano o seu nome vai mesmo aparecer nas urnas, como candidato do PSDB à prefeitura paulistana.

Se isso ocorrer, vai se juntar a uma longa lista de comunicadores que usaram a exposição na mídia para se arriscar na política. Em São Paulo, um dos pioneiros foi o radialista Manoel de Nóbrega, eleito deputado estadual na década de 1940. Foi seguido por Blota Júnior, Jacinto Figueira Júnior, Afanásio Jazadji e Celso Russomanno, entre tantos outros.

Após quatro desistências e dez trocas de partidos, Datena está, há algumas semanas, em pleno processo de transição de apresentador de televisão para político. Neste caminho, tem dito que mudou de opinião sobre a vantagem que figuras como ele tem em relação a outros candidatos.

José Luiz Datena (PSDB) no debate da Band com pré-candidatos à Prefeitura de SP - Folhapress

Em 2012, falando sobre a candidatura de Russomanno à prefeitura, ele me disse: "Aparecer na TV, com milhões de pessoas confiando em você, te dá uma vantagem. Pode ser legal, mas não é justo".

A legislação eleitoral estabelece que apresentadores de rádio e televisão devem deixar as suas atividades cerca de três meses antes das eleições. Neste ano, a data-limite foi 30 de junho. Acho muito pouco.

A exposição na televisão aberta é uma vantagem incomparável a qualquer outra.

Lembrado nesta semana por Carlos Petrocilo, da Folha, que em 2011 disse ao jornalista Alberto Dines que nunca disputaria uma eleição, Datena afirmou: "Muita coisa mudou de lá para cá; o partido está me dando apoio".

Estes primeiros momentos de Datena como candidato mostram que a transição não é de todo simples. O mau desempenho no debate na Band mereceu uma reflexão "sincerona": "Subestimei o debate. Achei que, por ser um bom apresentador, fosse dar um show nos caras".

No comando de programas policiais, em especial o Brasil Urgente, há mais de duas décadas, Datena se tornou uma máquina de falar. Este tipo de atração, com três ou quatro horas de duração, ensina a quem está no comando a gritar sem parar, repetindo informações descontroladamente e enfatizando os pontos de vista mais polêmicos.

As regras rígidas do debate eleitoral, com tempo cronometrado para perguntas, respostas e réplicas, tiraram Datena do eixo. Para efeitos de redes sociais, sobraram memes, em especial um em que o candidato gagueja comicamente.

As jornalistas Natuza Nery e Vera Magalhães expuseram outro aspecto da natureza de um candidato ainda não devidamente adestrado: a dificuldade de ouvir perguntas.

Seguidamente interrompida numa entrevista, Natuza perdeu a paciência: "O senhor já ouviu falar de uma expressão chamada ‘manterrupting’? É quando o homem não deixa a mulher falar". Datena respondeu: "Eu tenho muito respeito às mulheres. Agora, estou falando com um entrevistador, independentemente de gênero".

A apresentadora do Roda Viva também se cansou da postura do candidato. "Deixa eu fazer a pergunta pro senhor, por favor! Obrigada", pediu, após ser interrompida pela enésima vez. "Desculpa", disse Datena.

No centro do Brasil Urgente, sem ser confrontado por ninguém, o apresentador sempre falou com desenvoltura sobre todos os assuntos. Agora candidato, supôs que não tivesse dificuldade para responder questões relacionadas aos problemas da cidade que pretende comandar. Enganou-se.

No programa Roda Viva, em mais de uma ocasião, ficou claro que não sabia o que dizer sobre vários dos tópicos levantados, em temas como saúde, educação e urbanismo.

Acredito que, caso não desista novamente, ao longo das próximas semanas, Datena vai ganhar cancha e se tornar mais parecido com políticos profissionais. Ainda vamos sentir saudades do apresentador de televisão.

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