Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Luis Roberto e Galvão fazem dueto desafinado na cerimônia de abertura de Paris

Ex-narrador número 1 da Globo ignora função de comentarista e se sobrepõe ao seu sucessor

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A bonita cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris ofereceu uma diversão adicional ao espectador brasileiro que acompanhou o evento pela Globo: um quase duelo entre os narradores Luís Roberto e Galvão Bueno pelo comando da transmissão.

Voz da emissora por 41 anos, Galvão se despediu das narrações esportivas ao final da Copa do Qatar, em dezembro de 2022. Luís Roberto foi, então, nitidamente ungido como o seu sucessor; o outro candidato, Cléber Machado, nem foi enviado ao Qatar e deixou a emissora em abril de 2023.

A ideia de colocar Galvão e Luís Roberto lado a lado, que alguém dentro da emissora deve ter considerado genial, era concluir esta importante transição, uma passagem de bastão. Deu errado. Resultou num dueto desafinado, involuntariamente cômico.

Galvão, apelidado por seu amigo Ayrton Senna de Papagaio, não se conteve no papel de "segunda voz", o comentarista ao lado do narrador. Em inúmeros momentos, ele interrompeu Luís Roberto ou agiu como se fosse o comandante da transmissão, fazendo perguntas aos repórteres da emissora ou pontuando as observações dos demais comentaristas.

Galvão Bueno e Luis Roberto na transmissão da abertura dos Jogos Olímpicos de Paris - Globoplay

Como fazia quando narrava jogos da seleção brasileira, Galvão divagou sobre assuntos variados, com ou sem relação com o tema principal. Ele se aventurou até por comentários de cunho feminista, ao lembrar que os primeiros Jogos da era moderna não contaram com mulheres: "Coubertin [barão francês criador dos Jogos da era moderna] cometeu um erro grave", disse.

Luís Roberto até tentou, no início, interromper um dos longos comentários de Galvão, mas logo desistiu. Talvez porque estivesse um pouco rouco, ele se rendeu e deixou o ex-narrador da Globo brilhar. Não à toa, Galvão logo viu seu nome despontar como o mais comentado na rede social X.

Ao lado de ambos, a ex-ginasta Daiane dos Santos e o surfista Ítalo Ferreira foram menos que coadjuvantes; foram quase figurantes. Aparentemente, não tinham muito o que dizer. Ítalo, por exemplo, abusou da obviedade ao observar, com solenidade, que o maior objetivo dos atletas olímpicos é conseguir uma medalha de ouro.

Não podemos dizer que esse dueto desafinado foi original. Na abertura da Rio-2016, a Globo escalou Galvão e a saudosa Gloria Maria para comandarem a transmissão da cerimônia de abertura. Foi um show de humor, com um corrigindo ou cortando o outro. Falaram tanto que a certa altura o narrador pediu: "Vamos ouvir, Glória!"

Já há alguns anos, a área de esportes da Globo não está mais vinculada ao jornalismo, o que permite maior liberalidade em alguns tópicos, entre os quais, ações comerciais e publicidade. Isso explica a abrupta propaganda de uma marca de sandálias feita por Luís Roberto justo no momento mais aguardado, quando os atletas brasileiros surgiram dentro de um barco no rio Sena.

Alternativa a esta inusitada transmissão da Globo, a CazéTV, no YouTube, apostou muitas de suas fichas nos comentários do carnavalesco Milton Cunha. Foi uma boa ideia. Uma cerimônia de abertura de Olimpíada tem pontos de contato com um desfile de escola de samba, e Cunha é um sujeito engraçadíssimo.

Com sua pegada forçadamente descontraída e juvenil, a família Cazé usou e abusou de Milton Cunha. Sempre rápido no gatilho, o carnavalesco não decepcionou, com elogios ao figurino do chefe, Casimiro Miguel, o Cazé ("elegantérrimo"), e comentários positivos, também, sobre o questionado uniforme dos atletas brasileiros.

Fazendo as honras da casa, Cazé ensinou: "Não é embarcação. É a nau brasileira", disse. "A nau", repetiu, sublinhando o duplo sentido. "Vai com calma, Milton Cunha".

Em outro momento cômico (?), Cunha comentou a entrada em cena de vários baús da marca francesa Louis Vuitton. "Preciso de um baú desses", disse. "O que você guardaria?", quis saber alguém. "Vários namorados", respondeu.

Na competição com a CazéTV, a Globo teve uma importante vantagem: os direitos de contar com um repórter, Marcelo Barreto, e imagens dentro do barco que levou a delegação brasileira. Fez muita diferença, já que o protocolo da cerimônia previa somente pouco mais de 20 segundos de imagens para cada país.

Que venham os Jogos!

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