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Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

Fadiga de ser brasileiro

Como tantos brasileiros podem ignorar as recomendações da ciência, sabendo que as mortes estão crescendo?

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Não é de hoje que os brasileiros estão exaustos em função da violência brutal, do ódio, do desgoverno, da corrupção, do desemprego, da miséria e das sucessivas crises do país. Não é à toa que somos os maiores consumidores, em todo o mundo, de ansiolíticos, antidepressivos e remédios para dormir.

Há muitos anos tenho escutado mulheres que estão doentes por não ter tempo para cuidar de si, como uma professora de 45 anos:

“Às vezes me tranco no banheiro por cinco minutos para respirar e não ter um ataque de pânico. Mas logo alguém grita: ‘Amor, lavou minha cueca?’; ‘Mãe, fez batata frita?’. Quando digo 'não' sou agredida: ‘Nossa, o que custa? Não faz mais do que sua obrigação de mãe e esposa’. A vida das brasileiras é um inferno. Cuidamos de todo mundo e ninguém cuida de nós. Trabalhamos 24 horas por dia e não temos o mínimo reconhecimento pelo sacrifício que fazemos. Somos invisíveis”.

Essa cruel realidade ficou ainda pior na pandemia. Por isso, quando li sobre a chamada “fadiga da quarentena” logo pensei em milhões de brasileiras que não conseguem dormir nem comer direito, que estão deprimidas, desesperadas e exaustas.

Usando como desculpa a “fadiga da quarentena” muitos brasileiros ignoram os protocolos de segurança: vão a festas, bares, restaurantes, praias, eventos lotados, aglomerações sem usar máscara.

Eles dizem que não aguentam mais o distanciamento social, que têm o direito de levar uma vida normal já que não são do grupo de risco, que se sentem prisioneiros dentro de casa apesar de terem celular e internet para se conectar com o mundo.

Não consigo compreender como tantos brasileiros podem ser tão egoístas, perversos e irresponsáveis, e ainda se vangloriarem de contrariar as recomendações científicas. “E daí? Todos vão morrer, mais cedo ou mais tarde. Enche o saco usar máscara. Eu não sou maricas nem cagão, tá ok?”.

Que tipo de ser humano está se divertindo em vez de ajudar, cuidar e proteger a vida da sua mãe, do seu pai, irmãos e avós? Como pode se preocupar apenas com o próprio umbigo e dar risadas no meio dessa tragédia? Não se envergonha de atrapalhar tanto, prejudicar a saúde da família e tornar esse pesadelo ainda pior? Não se sente culpado por colocar em risco a vida de amigos e amores? Não se comove com o sofrimento e extermínio de milhões de brasileiros?

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