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Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Velhas sem vergonha

Por que as mulheres brasileiras têm tanto pânico, preconceito e vergonha de envelhecer?

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Cinco cenas de velhofobia que retratam preconceitos, medos e vergonhas de uma mulher brasileira que luta para envelhecer com mais liberdade e felicidade.

Cena 1 – Você não se enxerga, sua velha ridícula?

Fui comprar uma calça jeans de uma grife famosa e uma vendedora bem jovem me tratou com total desprezo. Ela me olhou dos pés à cabeça como se dissesse: "Você não se enxerga, sua velha ridícula? Não quero a etiqueta da minha loja desfilando na bunda murcha e caída de uma velha baranga". Saí de lá arrasada, apesar de, na época, só ter 40 anos. Como a jovem não percebeu que estava sendo cúmplice da velhofobia que as mulheres sofrem? Como não reconheceu que estava alimentando o preconceito contra ela mesma no futuro?

Primeira lição de velhofobia: As mulheres mais jovens reforçam os estigmas e preconceitos contra as mulheres maduras.

É necessário rir, brincar e gozar da velhofobia que mora dentro de nós - Blackday/Adobe Stock

Cena 2 – Por que você fica tão feliz de parecer mais jovem?

Na Alemanha, em 2007, dei oito palestras sobre o corpo como capital na cultura brasileira. Após a minha palestra na Universidade Livre de Berlim, uma socióloga me perguntou: "Por que você fica tão feliz de parecer mais jovem? Por que considera um elogio parecer ser o que você não é mais? É infantil essa postura de depender do olhar e da aprovação dos outros. Você mesma é que deve se sentir bonita e atraente. Eu sei avaliar se sou atraente ou não. É só me olhar no espelho".

Foi como um tapa na minha cara. Percebi que eu sempre respondia à pergunta "quantos anos você tem?" com "quantos anos você acha que eu tenho?". Aos 50 anos, ficava eufórica quando os mais mentirosos diziam que eu parecia ter 38. Quanto mais mentiam, mais feliz eu ficava.

Segunda lição de velhofobia: Dizer que pareço mais jovem não é um elogio, mas uma forma de desqualificar e deslegitimar a beleza da mulher madura.

A antropóloga Mirian Goldenberg - Raquel Cunha/Folhapress

Cena 3 – Dois velhinhos podem se beijar no Carnaval?

Em um sábado de Carnaval na zona sul do Rio de Janeiro, meu marido me beijou apaixonadamente. Imediatamente um grupo de jovens fez um círculo ao nosso redor. Eles deram risadas e aplaudiram. Uma menina fantasiada de princesa gritou: "Tá melhor que a gente!". Um garoto fantasiado de príncipe gritou mais alto ainda: "Olha que bonitinho, dois velhinhos se beijando".

Terceira lição de velhofobia: Será que a princesa encantada e seu príncipe consorte já sabem que serão os "velhinhos bonitinhos" de amanhã?

Cena 4 – Como lutar de forma lúdica e libertária contra a velhofobia?

Em 2008, escrevi o Manifesto das Coroas Poderosas para combater os meus próprios preconceitos, medos e vergonhas de envelhecer. O meu manifesto terminava com um grito de guerra: "Coroas poderosas unidas jamais serão vencidas! Fodam-se as rugas, as celulites e os quilos a mais!".

Quarta lição de velhofobia: É necessário rir, brincar e gozar da velhofobia que mora dentro de nós.

Cena 5 – Você está criando o Movimento das Velhas Sem Vergonha?

No dia 18 de outubro de 2011, foi publicada uma entrevista comigo na revista TPM. Quando vi a revista na banca levei um susto. Em uma foto que ilustrava a matéria, apesar de eu estar vestindo uma camiseta cor da pele, parecia que eu estava nua, cobrindo os seios apenas com as minhas mãos cruzadas.

A ideia original da foto era eu estar, no meio, apontando de um lado para Simone de Beauvoir e de outro para Leila Diniz. Além de a TPM ter retirado as minhas musas inspiradoras da foto, a minha cara enorme, sem maquiagem e sem photoshop, revelava todas as marcas da minha velhice: as rugas nos olhos, as manchas na pele, o pescoço encarquilhado. Eu estava completamente nua e crua.

No dia seguinte, na faculdade, uma professora me perguntou na frente de todo mundo: "Você está ficando uma velha louca? Depois das Coroas Poderosas, você está criando as Velhas Sem Vergonha?"

Quinta lição de velhofobia: Depois de ser xingada de velha ridícula, velha baranga e velha louca, resolvi mudar o nome do meu movimento lúdico e libertário. Agora sou a fundadora e, por enquanto, a única militante das Velhas Sem Vergonha. Alguém topa fazer parte do meu movimento?

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