Siga a folha

Correspondente da Folha na Ásia

Em crise, imprensa londrina cogita até subsídio estatal

BBC, Guardian, Mirror e Economist aceleram cortes em meio à pandemia e buscam saídas

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Há dois meses, o tabloide Daily Mail deixou o Sun para trás em circulação, após quatro décadas, no que foi recebido como uma mudança histórica. Mas veio o balanço do segundo trimestre, e o grupo registrou uma queda, na publicidade impressa e digital, de 45%.

A audiência do Mail Online, já entre as maiores de jornal em inglês no mundo, com versões em diversos países, disparou 37%, mas a publicidade online caiu 17% —e ele não cobra assinatura.

O resultado foi agravado pela pandemia, porém reflete tendências anteriores de uma imprensa que serviu de farol para o jornalismo no mundo, na segunda metade do século 20, Brasil inclusive, e se vê hoje sob ameaça existencial.

Desde o final do ano, por exemplo, o Telegraph, jornal de onde saiu o primeiro-ministro Boris Johnson, está à venda. E o Times estuda se juntar ao Sunday Times para, somadas as Redações, oferecer conteúdo capaz de disputar o mercado global com New York Times e outros.

Mas são mesmo as demissões dos últimos meses, quando as ilusões inglesas em relação ao vírus caíram de vez, que chocam mais. A Economist anunciou 90. O grupo do tabloide Daily Mirror, 550.

Em televisão, a BBC acaba de confirmar 520 demissões, com programas inteiros, como The Andrew Neil Show, saindo do ar. A rede pública já havia falado em 450 em janeiro, mas adiou devido à pandemia —e agora acrescentou 70.

Culminando o movimento, o Guardian anunciou 180 cortes, 70 na Redação, e a extinção de cadernos tradicionais como Weekend e Review. Abriu negociações com seu cartunista histórico, Steve Bell (charge acima, de 22/7, com os americanos Mike Pompeo e Trump jantando Johnson), para reduzir ou talvez eliminar suas colaborações.

“O Guardian não tem mais a relevância dos tempos de [Alan] Rusbridger”, descreve Daniela Pinheiro, que foi curadora do Festival Piauí de Jornalismo e hoje é bolsista do Instituto Reuters, em Oxford, citando o editor de coberturas históricas, como as revelações de Edward Snowden.

Tanto no jornal como na BBC, a justificativa dada é a pandemia. “Se não fizermos mudanças, não seremos sustentáveis”, afirmou o diretor de jornalismo da emissora, em comunicado. “Essa crise nos levou a reavaliar como operamos como organização.”

A nota do Guardian projetou para este ano uma diminuição de receita superior a 25 milhões de libras (R$ 166 milhões) e falou em “perdas anuais insustentáveis nos próximos anos, a menos que tomemos medidas decisivas”.

O resultado contrasta com o quadro de um ano atrás, quando a publicação chegou a ser saudada como modelo para o “futuro digital dos jornais” pelo Nieman Lab, de Harvard, nos EUA, devido a seu programa de doações dos leitores.

Era uma miragem, após uma década traumática, em que algumas das principais instituições jornalísticas inglesas foram vendidas para grupos estrangeiros. Da agência Reuters, hoje canadense, ao Financial Times, japonês, e ao Evening Standard, parte russo e agora também saudita.

O quadro tem levado algumas das principais vozes do jornalismo do país, como Emily Bell, ex-editora no Guardian, a defender subsídio estatal, como na Alemanha e outros europeus. Já houve até estudo encomendado pelo governo nessa direção.

“O financiamento público é um tema muito discutido aqui”, relata Pinheiro, acrescentando, porém, ser cada vez mais controverso, como acontece neste momento no debate em torno da BBC. “Acham que, quando você põe dinheiro público, não consegue escapar do controle. E da crítica.”

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas