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Pelo fim do debate simplista

Eleições têm tantas propostas impensadas que nós, o eleitorado, não podemos baixar a guarda nem por um minuto

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Estamos em maio de 2022 e logo teremos um pleito eleitoral dos grandes. Vamos às urnas eleger um monte de representantes populares para tocarem, em nosso nome, os rumos do país. O eleitorado, como em todos os lugares, não é uma massa homogênea. Em particular, há aqueles que se dizem mais alinhados com valores conservadores e, no lado simétrico, os que por ausência de melhor palavra, chamamos de progressistas. Nosso ponto central aqui é que essas visões de mundo distintas não deveriam implicar projetos para a economia muito distintos. Em outras áreas, a discordância sobre rumos é mais natural e inevitável, ainda que não precise se transmutar em ódio e radicalismos. Em economia, não deveriam divergir significativamente.

Com efeito, a teoria econômica moderna, cada vez mais solidamente alicerçada em evidências empíricas bem trabalhadas, evoluiu muito nos últimos 40 anos. Não vamos detalhar as nuanças desse processo, mas é fundamental entender que os modelos e paradigmas extremos estão cada vez mais desacreditados entre os cientistas. Ninguém sério na profissão vê o mundo como um lugar onde só (ou quase só) existem falhas de governo, ou, no extremo oposto, como o idílio no qual o governo vai nos salvar das garras do mercado e guiará o país na direção da prosperidade via planejamento central. Nonada. O mundo da economia, talvez infelizmente, é bem mais complexo e não se encaixa nessas gavetinhas maniqueístas.

TSE apresenta as novas urnas eletrônicas, que devem ser usadas a partir das eleições de 2022. - SECOM/TSE/Divulgação

Em particular, as soluções fáceis estão quase sempre erradas. Por exemplo, aumentar o gasto com educação para 10% do PIB provavelmente não vai fazer muito pelos mais pobres se a caixa-preta da provisão pública de ensino não for aberta, analisada, e extirpadas suas ineficiências.

Por que com o gasto atual, que não é pequeno, colhemos resultados tão medíocres? E a tal saída da estagnação econômica via um empuxo de investimento público? Essa é uma das propostas que mais nos causa frio na espinha, dado que justamente acabamos de tentá-la avec gusto, no período entre 2012 e 2014, tendo colhido uma das maiores recessões domésticas em tempos de bonança internacional. Passe de mágica não funciona fora do circo. Ocorre justamente o oposto em termos de causalidade: o país vira um circo.

Vale o mesmo para as ideias liberaloides. Como a extinção de toda e qualquer cota em nome de uma meritocracia mal-ajambrada (um aluno de escola pública que acerta 65 de 100 no vestibular não é menos capaz que um do setor privado elitizado que acerta 71!). Ou as propostas de redução de impostos impensadas que parecem esquecer que aumentos de déficit público que coloquem a trajetória da dívida em perigo são mau negócio para a economia. Mercados livres são sim o motor de crescimento de longo prazo, mas vêm com um monte de falhas: concentração, externalidades negativas, desigualdades. Ignorar isso, além das óbvias consequências diretas, leva a um recrudescimento do sentimento antimercado e, através do sistema de representação democrático, a políticas socioeconômicas ruins, a excessos intervencionistas.

São tantas as propostas impensadas (isso sem falar nas tantas outras mal-intencionadas) que nós, o eleitorado, não podemos baixar a guarda nem por um minuto. E em tempos de inflação alta e insatisfação geral, o terreno para loucuras como "controle de preços" —solução testada inúmeras vezes e sempre com resultados nada menos que catastróficos— fica extremamente fértil.

Entender o que tem pouca ou nenhuma chance de dar certo no plano da economia, mais uma vez, é apenas o primeiro passo. Mas precisamos começar em algum lugar.

Mauro Rodrigues (professor de economia na USP e autor do livro "Sob a lupa do economista") e equipe do Por Quê?

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