Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.
A favela na ONU
Criação de ministério próprio fará das comunidades elaboradoras e protagonistas de mudanças estruturais
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As agendas das favelas estão circulando por todos os lugares, nas mesas e nos temas mais diversos, de economia a tecnologia, da moda à comunicação, de negócios a política e toda uma infinidade de oportunidades e articulações que estão em andamento.
No fim de semana, o empreendedor do ano de 2022 da revista Exame, Celso Athayde, eleito também o nome do social pelo Fórum Econômico Mundial em Davos, levou a agenda da favela à sede das Nações Unidas durante a reunião do Pacto Global.
Athayde, criador da primeira holding de favelas do mundo e fundador da maior ONG de favelas, a Cufa, pautou a necessidade de criação do Ministério das Favelas ante lideranças, empresários, autoridades e ativistas do mundo inteiro.
Eu já trouxe esse tema para a coluna. Agora ele ganha relevância e destaque internacionais, já que a favela, pelos números de sua população —17 milhões, o que corresponderia ao quarto estado mais populoso do Brasil— e de sua economia, que mobiliza R$ 117 bilhões em poder de consumo e supera o PIB de muitos países, precisa ser entendida e colocada na pauta a partir de outro olhar que não seja somente de problemas e carência.
Olhar a favela e suas potências é necessário porque, mesmo diante das dificuldades e desafios que têm de ser superados, como a falta de infraestrutura, a desigualdade que já conhecemos, perceber sua capacidade de resiliência e produzir soluções e alternativas não dialoga somente com esse território, mas com todo o país.
A reivindicação de um Ministério das Favelas no futuro governo é algo que atende a essa evolução de agenda propositiva que centenas de lideranças que atuam na base da pirâmide desenvolvem todos os dias.
Não podemos mais deixar a favela pulverizada em várias políticas perdidas dentro dos governos. É preciso focar, tirá-la da ideia de problema ou gasto e pensá-la como solução, alçá-la ao status de elaboradora e protagonista de mudanças estruturais.
Muito já se avançou nesse entendimento: sou do tempo em que quase nenhuma organização usava o nome favela. Hoje favela tornou-se um conceito bem mais amplo e que remete para uma percepção além das fragilidades e déficits gerados pela ausência de estado.
Nada mais legítimo que, do ponto de vista institucional, com esse poder de produzir riqueza e com sua densidade demográfica, a favela saia das pastas secundárias e passe a debater a economia, a infraestrutura, as áreas de desenvolvimento e planejamento da nação.
Conteúdo existe de sobra, e quadros qualificados, mais ainda. Capacidade de elaborar e executar não nos falta. Que avancemos rumo ao Planalto Central.
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